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sábado, 27 de setembro de 2014

O anonimato nas redes sociais

Gisele Meter
  
Engana-se quem acredita que as redes sociais só existem por causa da tecnologia. O termo rede social está relacionado a interação social e é exatamente por meio dessa troca que se constituiu o que hoje chamamos de sociedade.

Participar de uma rede social é sentir-se pertencente e atuante em seu meio, seja pela expressão de ideias, exposição de pensamentos e ou até mesmo pela avaliação de determinado comportamento de alguém do grupo.

Interagir socialmente é necessário na medida em que estamos em constante evolução. Grande parte dessa transformação pessoal também é “injetada” em nossa subjetividade por meio da socialização com outras pessoas.

Com o advento tecnológico nos foi permitida uma interação social que independe de fronteiras, pois o acesso à Internet possibilitou a derrubada de barreiras espaciais e temporais em prol desta interação, formando uma linha tênue que hoje separa a vida real da virtual.

A popularização da Internet ocorreu na década de 1990, quando os e-mails faziam a função de conectar pessoas. A partir de então, houve uma dinâmica no sentido de estarmos cada vez mais em contato com outros indivíduos de maneira abrangente. Surgiram, assim, os chats – ferramentas para conversa em tempo real através de dois computadores. Desde aquela época o anonimato já era comum em salas de bate-papo de grandes sites. Pessoas se identificavam com um nickname sem a necessidade de revelar suas identidades verdadeiras.

Os chats passaram a conectar pessoas. No entanto, começaram a perder força para seus sucessores: Mirc, ICQ, que posteriormente foram substituídos pelo MSN Messenger e outros do gênero. A utilização destes programas permitia não somente que fizéssemos interação social, mas que também constituíssemos nossa própria rede de contatos, utilizando nomes verdadeiros e identidades reais.

A evolução da comunicação virtual, a cada nova atualização, provocou migrações em massa. O fato foi constatado expressivamente em 2003, com o surgimento da primeira rede social denominada MySpace que no ano seguinte, foi praticamente engolida pelo Orkut (2004) e que, consequentemente, também foi quase extinta com o surgimento do Facebook (2004), Twitt er (2006) e Instagram (2010). No entanto, o que todas tinham em comum, além de serem redes sociais, era a necessidade de utilizar a identidade real para assim constituir também a sua identidade virtual interativa.

Em 2007, com a popularização dos smartphones no Brasil, as redes sociais ganharam mais força, sendo utilizadas amplamente via dispositivos móveis para a conexão social virtual, não sendo mais necessário estar diante de um computador para interagir com outras pessoas.
Desde o surgimento de chats anônimos no início da Internet até hoje, com a conexão via celular a qualquer hora e em qualquer lugar, podemos perceber como a questão da identidade é relevante no mundo virtual.

Em 2013, ocorreu novamente outra dinâmica de configuração que veio para intrigar até mesmo grandes especialistas da área tecnológica. Houve, assim, um boom de programas que têm sua interação exclusivamente permeada pelo anonimato.

Atualmente, parece que esse tema retornou com força total, desafiando não somente a lógica evolutiva das redes sociais, mas também da própria interação humana, pois a identidade se resigna a um segundo plano, priorizando novamente a não-identidade para o estabelecimento tanto de relações como de interações sociais.

Avaliação virtual

A diferença do anonimato do início da Internet para o que estamos presenciando hoje se baseia, principalmente, na forma de interação.

Se anteriormente as pessoas utilizavam o anonimato para conversas, hoje elas utilizam também para emitir opiniões sobre outras pessoas, avaliando, expondo e deixando registrado o que pensam para quem quiser ver. Logo, conversas que ficariam restritas a um pequeno grupo passam a ter abrangência assustadoramente incalculável.

Com a popularização dos smartphones no Brasil, as redes sociais ganharam mais força, sendo utilizadas amplamente para a conexão social virtual

Essa prática ficou ainda mais evidente com o surgimento de aplicativos sociais para dispositivos móveis. Prova disso foi o frisson causado no final de 2013 pelo aplicativo feminino denominado Lulu, que até a data do fechamento deste artigo encontrava- se indisponível para download nas lojas AppStore e Google Play. No Brasil, tal aplicativo teve por objetivo o compartilhamento anônimo de informações e percepções acerca de outro indivíduo, no caso, do sexo masculino. Sem o seu conhecimento ou tampouco o seu consentimento, o que causou grande insatisfação de muitos homens no país, cuja exposição em tal programa “puxava” informações de outra rede social (Facebook), exportando-as para a sua plataforma, e era feita por meio avaliações com notas ou hashtags. Caso volte ao ar, algumas mudanças deverão ser feitas, como manter no sistema somente usuários que autorizem fornecer suas informações.

Pensadora contemporânea
Filósofa política alemã de origem judaica, Hannah Arendt é uma das mulheres mais influentes do século XX. Seu trabalho abarca temas como a política, a autoridade, o totalitarismo, a educação, a condição laboral, a violência e a condição feminina. Seu primeiro livro leva o título O Conceito do Amor em Santo Agostinho: Ensaio de uma interpretação filosófica. Trata-se de sua tese, editada em 1929 em Berlim, na qual ela enlaça elementos da Filosofia de Martin Heidegger com os de Karl Jaspers e já enfatiza a importância do nascimento, tanto para o indivíduo como para seu próximo. Em As Origens do Totalitarismo (1951) consolida o seu prestígio como uma das maiores figuras do pensamento político ocidental. Hannah assemelha de forma polêmica, como ideologias totalitárias, o nazismo e o stalinismo. Faz isso com uma explicação compreensiva da sociedade, mas também da vida individual, e mostra como a via totalitária depende da banalização do terror, da manipulação das massas, do acriticismo face à mensagem do poder.

O que chama a atenção, no entanto, é a dinâmica assumida por essas novas plataformas sociais que têm por objetivo não mais somente a interação voltada para o encontro social, mas também a intenção de impactar diretamente a construção da identidade virtual de um indivíduo.

Dessa forma, aplicativos de avaliação virtual favorecem a dinâmica de um comportamento que em uma situação não-virtual da vida cotidiana poderia não ser observado. Isso ocorre porque muitos desses aplicativos usam, justamente, o subterfúgio do anonimato para estimular a avaliação indiscriminada de outros indivíduos, estando quem avalia protegido por uma espécie de máscara, permitindo que possa exercer seu próprio crivo virtual sem nenhum tipo de receio ou culpa. Afinal, a consequência de suas atitudes não voltará para essa pessoa. Ao privilegiar o anonimato em aplicativos sociais, há uma estimulação do comportamento impulsivo sem a devida reflexão de suas consequências.

A conduta fica a critério do bom senso dos usuários que fazem suas próprias regras virtuais, independente dos danos que poderão causar

Além disso, quando avaliamos virtualmente outras pessoas sob uma única perspectiva, tendemos a acreditar que nossas avaliações são apenas virtuais e que, de certa forma, não prejudicaria o outro de forma real e efetiva. É como se, além do anonimato, colocássemos também um véu de deturpação da realidade sobre as consequências de nossos comportamentos, acreditando não estar fazendo mal a ninguém e, assim, enganando a nós mesmos.

É preciso refletir sobre essas ferramentas com um olhar mais crítico para entender o que elas podem impactar em nosso meio. Quando não pensamos nas consequências de nossos julgamentos, tendemos a dissipar a culpa, pois existe a ilusão de que as avaliações proferidas não passam de uma mera brincadeira.

PARA SABER MAIS
Brasileiros e smartphones
Segundo uma pesquisa realizada pela Nielsen provedora global de informações e insights sobre consumidores no ano de 2013, smartphones para os brasileiros servem mesmo é para navegar por redes sociais. O estudo indicou que 75% dos usuários desses dispositivos digitais usam o aparelho primariamente para acesso a redes sociais. O uso ultrapassa a Rússia (59%), Índia (26%), China (62%) e até mesmo os Estados Unidos (63%). O Brasil, hoje, já é destaque pela expressiva participação nas redes sociais, e isso foi replicado no mundo móvel, pois algumas pessoas veem smartphones como uma extensão da conexão à Internet, e outras, ainda, têm os dispositivos móveis como seu único ponto de contato com o mundo digital.

Quando avaliamos virtualmente outra pessoa, estamos não somente julgando seu comportamento ou a sua forma de ser, mas também acabamos por deixar registrada a realidade a partir de experiências pontuais que acreditamos ser uma verdade absoluta, e isso é feito a partir de uma única perspectiva – a do avaliador anônimo. Impulsionadas pela euforia e pelo falso poder de fazer o que desejarem sem serem descobertas, essas pessoas raramente param para pensar sobre o uso da rede em si e quais as consequências que isso pode causar. É como se fosse um movimento egoísta, com o intuito de afetar o outro de forma intencional, e, ao mesmo tempo, um passatempo sem grandes implicações.

É ilusório acreditar que aplicativos de avaliação social não impactam a subjetividade ou a construção da identidade de um sujeito. A partir do momento em que tecemos considerações sobre uma pessoa, baseados naquilo em que percebemos, vivemos ou observamos, estamos deixando de pensar no impacto social de nossas ações, e exercendo o que a teórica política alemã Hannah Arendt chama de mal banal. Ou seja, tomando atitudes que possam prejudicar outras pessoas, sem efetivamente refletir sobre as consequências do ato praticado.

Quem avalia normalmente acaba manifestando comportamentos que, se revelados no mundo real, poderiam não ser aceitos como adequados, logo a importância do anonimato.

É ilusório acreditar que aplicativos de avaliação social não impactam a subjetividade
ou a construção da identidade de um sujeito

Dessa forma, quando uma pessoa avalia outro sujeito sem refletir sobre o mal que pode causar à sua subjetividade ou a seu processo de socialização, acaba por tolher, tanto de forma virtual como real, a potencialidade de ser da pessoa que é avaliada. Isso porque, quando colocamos uma informação na Internet, independente de qual seja, não temos como mensurar suas consequências.

O que ocorre, no entanto é que, hoje, não existe praticamente nenhuma regulação ou norma de conduta efetiva em relação a redes sociais que permita que um usuário interaja anonimamente. É o caso de aplicativos como o “Secret” e o “Whisper” – em que as pessoas utilizam o subterfúgio do anonimato para expor o que pensam sem que os outros fiquem sabendo de onde ou de quem partiu tal informação.

A conduta, por sua vez, fica a critério do bom senso dos usuários que fazem suas próprias regras virtuais, independente dos danos que poderão causar. Afinal, para todas as vantagens individuais que tais programas trazem, sempre existirá um impacto social potencialmente prejudicial para um grande número de pessoas, tanto subjetivamente quando do ponto de vista interacional.

Comportamentos

A comunicação indiscriminada e anônima através de programas ou aplicativos na Internet tende a fomentar comportamentos compulsivos, imediatistas, ansiosos e narcisistas, enfraquecendo consideravelmente os grupos sociais nos quais se está interagindo.

A Psicologia Social entende que a construção da identidade de uma pessoa se dá por meio da interação pela qual o indivíduo exerce um papel atuante e dinâmico, afetando o seu meio e, consequentemente, também sendo afetado por ele.

A comunicação indiscriminada e anônima por meio de programas ou aplicativos na Internet tende a fomentar comportamentos compulsivos

Essa dinâmica ocorre sob diversos fatores, tais como a percepção social que dá significado ao que vemos e sentimos, a comunicação que envolve a codificação e a decodificação para a interpretação das mensagens que emitimos ou recebemos, independente de ser constituída apenas pelo verbal, mas passando por aspectos gestuais, posturais e comportamentais.

Para a interação social também devemos considerar as atitudes que são baseadas em comportamentos como resposta a percepção e comunicação do meio em que se está inserido. Sendo assim, a interação via redes sociais pode ser considerada um fenômeno atual e potencialmente transformador, tanto das relações estabelecidas, como da construção da identidade do indivíduo. Isso porque, apesar das relações sociais serem mediadas por um processo não presencial, a profundidade das relações provoca em cada indivíduo uma sensação real de afetação mediad a virtualmente. O que pode ser comprometedor, pois nem todas as ferramentas de interação estão ao alcance do usuário virtual, e interferir consideravelmente em uma relação baseada na realidade.

Esse novo fenômeno desperta interesse da Psicologia Social devido a forma como estas ferramentas digitais estabeleceram um novo padrão não somente de interação, mas também de percepção entre as pessoas cujo contato físico deixa de ser o principal fator de mediação relacional, e o crivo social passa a ser considerado através de uma perspectiva virtual.

Esta dinâmica de conexão interativa pode impactar diretamente no processo de socialização de cada indivíduo que utiliza a Internet como uma forma de se conectar a um grupo ou até mesmo para se sentir atuante ao meio em que pertence. Se considerarmos a máxima de que o sujeito transforma e é transformado pelo meio em que vive, podemos compreender melhor este paradigma.

Realidade inventada

Quando nos referimos a aplicativos sociais que se baseiam no anonimato como forma de interação, devemos levar em consideração que a ideia de percepção social acaba por ser anulada. Isso ocorre uma vez que a compreensão e a percepção do outro, além de suas características, não nos possibilitam ter uma impressão real permeada por dados observáveis, mas apenas naquilo que acreditamos, baseado em nossas próprias percepções. Ou seja, através de tais ferramentas, podemos afetar também nossa forma de interação.

Diferente da relação social permeada pela identidade do sujeito que em contato com outras pessoas organiza informações e categoriza atos, aplicativos sociais podem distorcer a percepção que temos, sendo esta consideravelmente prejudicada. Além de não sabermos quem são as pessoas que interagem em tal programa, ainda existe uma precariedade na recepção das mensagens. Isso ocorre porque nos utilizamos apenas do sentido da visão para constituirmos a percepção que acreditamos ser realidade.

Aplicativos que utilizam subterfúgios do anonimato potencializam a superficialidade analítica que fazemos de outras pessoas, deixando de considerar nossa capacidade de construção do outro e, consequentemente, de nós mesmos. Fazemos assim uma relação social rasa, superficial e não verdadeira.

Aplicativo Lulu no Brasil
O aplicativo Lulu, que permite que mulheres avaliem anonimamente seus amigos do Facebook e causou polêmica no seu lançamento no Brasil, anunciou duas mudanças na ferramenta, exclusivas para o país. Desde dezembro, somente homens que optarem por participar do Lulu serão avaliados no aplicativo. Além disso, o Lulu permite que os homens tenham acesso à sua nota na brincadeira, informação que até agora estava disponível apenas para mulheres. O Lulu chegou ao Brasil em novembro de 2013 e permite apenas que mulheres deem notas e opiniões anônimas sobre homens. O serviço fez sucesso, mas gerou discussões a respeito da privacidade na Internet e enfrentou ações na Justiça. Todo o barulho, porém, alavancou o Brasil como o país com mais usuários no serviço.

Especula-se que o anonimato nas redes sociais seja uma forma de estimular a interação entre as pessoas alegando ser uma relação “anônima mais humana”. No entanto, se considerarmos os aspectos determinados pela Psicologia Social para o processo de interação percebemos que sua essência pode ser totalmente descaracterizada. Afinal, percepção, comunicação como troca de informações, atitudes que podem ser modificadas com novas informações, afetos ou comportamentos, além do processo de socialização e construção da subjetividade são comprometidos pela superficialidade relacional que acaba por não concluir o ciclo completo de recolhimento de dados, baseando-se somente na “verdade única” exposta em tal programa ou na própria percepção sobre um aspecto de outra pessoa.

Aplicativos que utilizam subterfúgios do anonimato potencializam a superficialidade
analítica que fazemos de outras pessoas

Com a virtualização da linguagem, se observarmos por outras perspectivas, o “aqui e o agora” se perdem, possibilitando “flutuar” entre o tempo e o espaço, e assim uma situação mal-resolvida, por exemplo, um amor não correspondido no passado, pode se transformar em uma “nota” ou comentário baseado apenas naquilo que foi vivido e percebido por uma das pessoas envolvidas. É como se pudéssemos ficar vulneráveis ao que os outros pensam, não tendo assim a chance de nos defendermos ou, ao menos, tentarmos reparar aquilo que foi dito ou vivido.

Pegada digital

Grande parte das pessoas hoje tem algum tipo de informação na Internet. Para comprovar isso, basta digitar um nome qualquer em um site de busca para que as informações apareçam rapidamente na tela. Isto é o que chamamos de Pegada Digital, ou seja, informações registradas na Web sobre uma pessoa.

Ter informações negativas registradas no mundo virtual (independente se são verdadeira) pode afetar diretamente os papéis sociais que um indivíduo exerce, isso porque não há controle sobre elas. Pedro Burgos, em seu livro Conecte-se ao que importa (Ed. Leya, 2014) reforça a ideia de pegada digital, afirmando que as fronteiras entre o online e o offline desapareceram e, hoje, ter um perfil “sujo” na Internet é como andar com uma letra escarlate. É importante que em alguns casos a ideia de esquecimento coletivo exista, defende o autor. Por causa da tecnologia digital, a habilidade da sociedade de esquecer foi suspensa, substituída pela memória perfeita, que pode ser acessada a qualquer momento.

Quando pensamos em contextos históricos, a possibilidade de explorar o passado do homem como uma busca pela resolução de problemas presente é totalmente válida, mas quando falamos de construção de uma subjetividade, a questão pode ser analisada sob outro ponto de vista. É preciso que deixemos que cada sujeito constitua sua própria identidade virtual. Não temos o direito de exercer tamanha influência.

Devemos basear nossa relação social na construção de crescimento e possibilidades e não por meio de julgamentos e percepções individuais que influenciem o meio em que o indivíduo está inserido. Ao analisarmos, julgarmos e tecermos opiniões virtuais, devemos nos conscientizar e assumir a responsabilidade de que estaremos minimizando justamente a potencialidade do ser e a transformação permanente das pessoas.

REFERÊNCIAS
  • BOCK, A. M. B.. Psicologia: uma introdução ao estudo de psicologia, 13. Ed reform e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.
  • BURGOS, P.. Conecte-se ao que Importa: um manual para a vida digital saudável. São Paulo: Leya, 2014.
  • 75% dos Brasileiros usam Smartphones para acessar Redes Sociais, disponível em: http://idgnow.com. br/mobilidade/2013/07/02/75-dosbrasileiros- usa-smartphones-paraacessar- redes-sociais/#sthash. PrcOXhCh.dpuf. (acessos em 25/02/2014)

Disponível em http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/edicoes/100/artigo311476-1.asp. Acesso em 30 ago 2014.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Facebook apaga perfis de trans e drags e revolta usuárias

Iran Giusti 
17/07/2014

O uso de apelidos é algo comum no Facebook. Muitas pessoas preferem usá-los para nominar seus perfis no lugar dos seus nomes de batismo. Entre os famosos, a prática é ainda mais costumeira. Por exemplo, ninguém conhece a cantora Mayra Corrêa Aygadoux, mas sim a sua alcunha artística, Maria Gadú.

Esse uso tão comum de apelidos parece não valer para todos, no entanto. Nas últimas semanas, diversas drag queens e transexuais receberam notificações do Facebook, alertando que os seus nomes nas redes sociais não correspondiam aos de batismo. Quem insistiu em mantê-los, teve perfis bloqueados e até excluídos.

Este foi o caso da drag queen Rebecca Foxx, 23. “Primeiro fui bloqueada. Disseram que era uma medida de segurança, precisei identificar alguns amigos para provar que era eu mesma. Consegui então ter acesso a um novo perfil. Mas dias depois, quando acordei, peguei meu celular e meu perfil estava desativado. Uma mensagem dizia que meu nome não era real”, reclama Rebecca.

Quem também teve o perfil bloqueado foi a drag queen Rita Von Hunty, 22. Ela chegou a trocar o sobrenome artístico pelo real quando recebeu o alerta, mas 24 horas depois, o perfil foi excluído. Rita diz que a medida prejudicou sua vida profissional

“O Facebook é fundamental para as drags. Nosso trabalho depende do contato com nossos amigos e admiradores. Somos uma geração de artistas que se vale da plataforma digital para encontrar pessoas que bebem das mesmas referências”, justifica Rita.

A também drag Samantha Banks, 24, compartilha da opinião de Rita e acrescenta que a relação com os contratantes também é feita pela rede social. “É por meio do Facebook que eu consigo os principais contatos para me chamarem para festas e eventos”, aponta Samantha.

“Parece uma estratégia para forçar com que paguemos para ter alcance nas nossas postagens (Amanda Sparks)

Samantha e as outras performers suspeitam que a atitude da empresa camufle interesses comerciais, numa tentativa de obrigar os usuários a trocarem seus perfis pessoais por páginas institucionais, como as de marcas e empresas.

“Parece uma estratégia para forçar com que paguemos para ter alcance nas nossas postagens”, presume a drag Amanda Sparks,32.

“No perfil, consigo atingir facilmente até 70 % dos seus amigos numa publicação, já com a página, atinjo menos de 10% dos meus seguidores. Se eu quiser aumentar esse número, vou precisar pagar diariamente para o Facebook para que promovam minha publicação”, pondera Samantha.

Diretora de comunicação do Facebook Brasil, Camila Fusco nega o intuito comercial da medida e diz que a rede social é igualitária. “A politica de nomes reais é válida para todos. No Brasil, temos uma equipe desde outubro de 2013 que entra em contato com artistas, indicando o uso da página no lugar do perfil pessoal, mas temos 87 milhões de usuários, é um processo que leva tempo. O recomendado para os perfis pessoais é o uso do nome de registro com o nome social ou artístico entre parênteses.”

Em sua política de uso, descrita em seu site, a rede social de fato deixa claro essa condição. “O nome que você usa deve ser o seu nome verdadeiro, conforme descrito em seu cartão de crédito, carteira de habilitação ou identificação de aluno”, recomenda o Facebook. Na listagem de documentos de identificação, são aceitos ainda Certidão de Nascimento, extrato bancário, prontuário médico e carteirinha de biblioteca.

Questão para o Ministério Público

Para a especialista em direito digital Isabela Guimarães, a postura do Facebook é controversa. “Nós podemos discutir o que é uma informação real. Infelizmente, as transexuais não têm uma lei que garante o uso do nome social delas. Mas isso não significa que o nome pelo qual elas atendem e são conhecidas não seja real”, pondera Isabela, acrescentando que a rede social pode ser investigada pelo Ministério Público.

“Infelizmente, as transexuais não têm uma lei que garante o uso do nome social. Mas isso não significa que o nome pelo qual elas atendem e são conhecidas não seja real 
(Isabela Guimarães)

“A partir do momento que diversos artistas e pessoas usam nomes que não são os de registro, e eles não têm o perfil desativado, podemos falar em dois pesos e duas medidas. O Facebook pode ser acionado por prática discriminatória, por parte do Ministério Público. O que o Facebook deveria fazer era combater perfis que causam danos a terceiros e não combater quem exerce um trabalho artístico ou utiliza seu nome social”, prossegue a jurista.

Surpresa com a varredura nos perfis de drags e transexuais, Isabela lembra que a unidade do Brasil da rede social se contradiz com a postura da matriz, nos Estados Unidos, que recentemente listou 50 termos de gênero, além do masculino e feminino, para que os usuários pudessem se identificar.

Camila contrapõe, dizendo que o Facebook dos EUA também tem restrições. “Aqui essa funcionalidade não está disponível, mas mesmo lá, escolher o seu gênero não significa que seu nome real não deve ser usado”, afirma a gerente de comunicação.

“Se eu for forçada a utilizar o nome do RG, como vi acontecer com algumas amigas drag queens, eu abandono o Facebook. Isso fere a luta de uma vida inteira para ser respeitada como sou” (Ledah El Hireche)

Luta por identidade

O caso da estudante de psicologia Ledah Martins El Hireche, 24, é ainda mais complicado, já que a questão não envolve apenas um trabalho artístico, mas sua identidade como pessoa. “Acordei um dia com um amigo me ligando, querendo saber o que havia acontecido com meu perfil que tinha desaparecido. Quando tentei fazer login, recebi a mensagem que meu nome era falso e que eu teria que alterar para o ‘nome verdadeiro’”, conta Ledah.

Usar o nome de registro na rede social é uma possibilidade que Ledah não cogita. “Se eu for forçada a utilizar o nome do RG, como vi acontecer com algumas amigas drag queens, eu abandono o Facebook. Isso fere a luta de uma vida inteira para ser respeitada como sou”, desabafa.

No Brasil, a alteração dos nomes de registro por transexuais costuma ser lenta e, muitas vezes, necessita de intervenção da Justiça, como é o caso de Ledah. “A questão já está sendo resolvida pela minha advogada, mas leva tempo para se concretizar. Mas se até lá o Facebook não respeitar o uso do nome social, não farei mais questão de participar de uma rede preconceituosa que segrega e não respeita minha questão de gênero.”

Para a gerente de comunicação do Facebook Brasil, apesar de viverem uma situação particular e cheia de dificuldades diárias, os transexuais não merecem tratamento diferente. “Nós ouvimos o feedback de cada um, mas não temos como abrir exceções para inserir os nomes que essas pessoas escolheram. Errado seria se houvesse algum tratamento distinto. Caso obtenham algum dos documentos listados poderão solicitar a alteração dos nomes.”


Disponível em http://igay.ig.com.br/2014-07-17/facebook-apaga-perfis-de-trans-e-drag-queens-e-revolta-usuarias.html. Acesso em 29 jul 2014.

domingo, 20 de outubro de 2013

Campanha acusada de erotizar crianças é alvo de críticas e denúncias ao Conar

Portal Imprensa
 17/10/2013

Nesta semana, uma campanha da rede de moda cearense Couro Fino foi alvo de protestos na internet em razão de um anúncio, parte de um ensaio comemorativo do Dia das Crianças, que mostra uma modelo infantil usando acessórios adultos e maquiagem, em poses qualificadas como sensuais. As imagens geraram comentários de indignação dos consumidores.


De acordo com a Exame, as fotos foram publicadas na fanpage da marca, que passou a receber postagens de críticas dos internautas que declararam que as peças erotizavam a figura infantil e ameaçaram boicotar a grife.

Segundo o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), até o momento as peças já receberam aproximadamente 100 notificações. O processo foi aberto na última segunda-feira (14/10) e deve ir à votação em novembro deste ano. A marca também pode receber medida liminar recomendando a suspensão das peças, em caráter provisório.

A Couro Fino afirmou, em sua página no Facebook, que a intenção era homenagear “uma data tão importante no calendário nacional” e que por uma interpretação errada causou "desconforto" nas redes sociais. A marca pediu que os usuários não compartilhassem a imagem e se desculpou pelo que chamou de “lamentável acontecimento”.


Disponível em http://www.portalimprensa.com.br/cdm/caderno+de+midia/61798/campanha+acusada+de+erotizar+criancas+e+alvo+de+criticas+e+denuncias+ao+conar. Acesso em 17 out 2013.

domingo, 29 de setembro de 2013

Fantasia e desejo nas redes sociais

Luiz Fernando Dias Duarte
02/11/2012

O vocabulário sobre as emoções na cultura ocidental contém muitas áreas de imprecisão e ambiguidade, o que enseja a impressão comum de não corresponder a representações sociais sistemáticas, recorrentes e obrigatórias. Desejo e fantasia são algumas dessas categorias que deslizam com frequência em nossa linguagem, como se expressassem apenas volúveis devaneios da vida individual de cada um de nós.

Tanto as psicologias quanto as ciências sociais enfrentam o desafio de compreender os modos pelos quais se estruturam essas dimensões da experiência humana – e como emergem e intervêm nas tramas da vida social.

Já nos primeiros tempos das ciências sociais, temas como os do ‘ideal’, da ‘imitação’, da ‘influência’, da ‘autoridade’, do ‘transe’ se impunham nessa área sutil da constituição coletiva da vida dita ‘subjetiva’ dos sujeitos. Dimensões que, sob a forma das ‘paixões’ e da ‘imaginação’, já haviam motivado os filósofos sociais desde o século 17, devido à sua crucialidade nas esferas da família, da religião, da política e da prática econômica.

A capacidade de imaginação e de projeção futura de imagens ideais, desejáveis, é uma dimensão essencial da construção dos sentidos do mundo em qualquer sociedade. Entre nós, essa capacidade é sobrevalorizada como chave da ideologia do progresso e da mudança, sob a forma da ‘criatividade’ e da ‘invenção’. Tanto nossas ciências como nossas artes e nossos meios de comunicação são lugares regulares do cultivo e fomento da imaginação ideal.

Graças ao extraordinário desenvolvimento da criatividade científica, produziram-se recentemente novos recursos públicos de compartilhamento da fantasia e do ideal, concentrados na comunicação digital e na possibilidade de sua circulação em ‘mundos virtuais’.

A esfera da internet, com suas múltiplas possibilidades de invenção e comunicação, abriga hoje formas cada vez mais complexas de troca social

A esfera da internet, com suas múltiplas possibilidades de invenção e comunicação, abriga hoje formas cada vez mais complexas de troca social, a partir de posições máximas de individualidade, intimidade e exclusividade. Cada sujeito social exercita sua vontade e obedece ao seu desejo de forma singular, ao acessar o espaço virtual e encaminhar na tela suas opções de navegação. Esse espaço é, no entanto, apenas uma nova versão dos espaços sociais reais, essenciais para o estabelecimento de uma identidade humana.

Imperiosa condição

Acabo de participar, no 36º Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), de um Grupo de Trabalho sobre ‘sexualidade e gênero’, em que diversas comunicações puseram em cena os mundos virtuais, do ponto de vista das fantasias sexuais ou eróticas para ali transpostas e ali retrabalhadas e vivenciadas.

Do ponto de vista dos organizadores do grupo, trata-se de uma coincidência imprevista; do ponto de vista da experiência social que cabe aos antropólogos interpretar, trata-se de uma imperiosa condição: os desejos e as fantasias eróticas, tão essenciais para a vida humana, encontram no espaço virtual uma arena privilegiada para se desenvolver, já que podem circular em uma esfera de trocas muito ampliada, em um gigantesco mercado de opções, com altas garantias de anonimato e baixas exigências de dispêndio econômico.

Ana Paula Vencato tratou das mulheres que se relacionam com crossdressers masculinos na vida real e que têm suas ambivalentes experiências compartilhadas em redes virtuais; Laura Lowenkron explorou “a construção dos marcadores corporais da menoridade em investigações policiais de pornografia infantil na internet”; Débora Leitão apresentou sua pesquisa sobre “sexualidade e mercado erótico no mundo virtual Second Life”; Carolina Parreiras tratou da produção de pornografia alternativa na internet; e Weslei Lopes da Silva discutiu as “representações e vivências do corpo feminino em interações sexuais pagas no ciberespaço”.

Outros trabalhos não focados na internet, como o de Amaro Braga Júnior sobre a ‘homoafetividade’ em quadrinhos japoneses, permitiram uma comparação frutífera entre diferentes conjugações da fantasia erótica contemporânea no Brasil. 

Virtualidade e realidade

Muito se pode discutir as condições da pesquisa em tais contextos: o acesso às redes e grupos; a ética da relação com os interlocutores; a fluidez e impermanência dos círculos de interação; a dificuldade de proceder a correlações entre as condições ‘reais’ dos sujeitos plugados e as que são encenadas por seus avatares on-line.

Em outro nível de preocupações, o próprio estatuto da ‘virtualidade’ é muito discutível, já que as experiências desencadeadas nesse meio são também ‘reais’ ao seu modo; no registro da relativização a que se dedica a antropologia sobre a concepção de realidade característica de nossa cultura.

Afinal de contas, a leitura de um romance, a realização de uma viagem, a fruição de um concerto musical, a experiência de um ritual religioso ou de absorção de um alucinógeno são todas elas experiências fantásticas de efeitos imediatamente concretos, de máxima implicação para a vida ‘real’ de cada um de nós.

A internet corresponde a uma nova dimensão de reverberação de todos os desejos e de todas as fantasias formuláveis em nosso código cultural

A internet corresponde, assim, a uma nova dimensão de reverberação de todos os desejos e de todas as fantasias formuláveis em nosso código cultural, com potenciais de realização em escala de massa e com algumas propriedades singulares, que os estudos tentam discernir.

Novos horizontes de relação entre o público e o privado são evidentes – e afetam particularmente as experiências eróticas. Também se apresenta aí uma nova fronteira entre a sensibilidade corporal imediata e as mediações intelectuais e cognitivas, o que desafia as convenções tradicionais da satisfação do desejo e da atualização da fantasia.

E a própria fronteira entre a fantasia e a realidade pode se refundir, como na criminalização da posse de imagens de pornografia infantil num computador pessoal, estudada por Laura Lowenkron: um crime de fantasia numa fervilhante galáxia de desejos.

Sugestões de leitura:
Leitão, Débora Krischke. Entre primitivos e malhas poligonais: modos de fazer, saber e aprender no mundo virtual Second Life. Revista Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 18, n.38, jul/dez 2012.
Bell, Mark. Toward a definition of virtual worlds. Journal of Virtual Worlds Research, vol.1, n.1, 2008.
Butler, Judith. The force of fantasy: feminism, mapplethorpe and discursive excess. In: Cornell, D. (org.). Feminism and pornography. Nova Iorque: Oxford University Press, 2000, p. 487-508.
Foucault, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.
Miller, Daniel e Slater, Don. Etnografia on e off-line: cybercafés em Trinidad.Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 10, n.21, p.41-65, jan/jun 2004.
Parreiras, Carolina. Altporn, corpos, categorias e cliques: notas etnográficas sobre pornografia online. Cadernos Pagu, n.38, jan/jun 2012.


Disponível em http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/sentidos-do-mundo/fantasia-e-desejo-nas-redes-sociais. Acesso em 24 set 2013.

domingo, 16 de junho de 2013

EUA: Militar condecorado assume mudança de sexo

Notícias ao Minuto
05 de Junho de 2013

Warrior princess: a Us navy seal's journey to coming out transgender’ (‘Princesa guerreira: A viagem de um navy seal para mudar de sexo’) é o livro, publicado no sábado, que conta a história de Chris Beck, agora Kristin Beck, um condecorado militar norte-americano que serviu o seu país durante 20 anos, antes de iniciar o seu processo de mudança de sexo.

Retirado da vida no activo militar desde 2011, Kristin, que actualmente é consultor, decidiu tornar público o seu segredo através de uma fotografia com o seu novo ‘eu’, que publicou numa rede social. 

Por baixo da imagem podia ler-se: “Estou agora a tirar todos os meus disfarces e a deixar que o mundo conheça a minha verdadeira identidade como mulher”, cita o USA Today.

As mensagens que chegam dos ex-camaradas dos seals, que inicialmente pensaram tratar-se de uma brincadeira, têm sido na maioria de apoio, conta Beck.

"Nos Estados Unidos, a taxa de suicídio de transexuais é de 50%, enquanto há países onde ronda os 2%. Esta é a principal razão deste livro", escreve Beck no prefácio do seu livro.


Disponível em http://www.noticiasaominuto.com/mundo/79673/militar-condecorado-assume-mudan%C3%A7a-de-sexo#.UbYLxPllk71. Acesso em 10 jun 2013.

sábado, 15 de junho de 2013

Você é julgado no Facebook por suas fotos, não por textos, diz pesquisa

IDGNOW
14 de março 2012

Uma imagem diz mesmo mais do que mil palavras, inclusive no Facebook. Ao menos é o que revela um estudo realizado pela Universidade de Ohio (EUA). A pesquisa envolveu 195 alunos que passaram por testes para identificar qual o fator determinante para a formar uma opinião sobre alguém no Facebook: textos de descrição de perfil ou imagens. Na maioria dos casos, as fotos por si só foram consideradas mais relevantes.

Para o professor assistente de comunicação Brandon Van Der Heide, que conduziu o estudo, as fotografias são a principal fonte para a formação das primeiras impressões nas redes sociais. 

Na pesquisa, os estudantes universitários que viram uma foto no perfil de um colega na rede social em que ele se divertia com os amigos a classificaram como uma pessoa extrovertida. Já fotos de internautas sozinhos no parque ou lendo um livro foram classificadas como tímidas.

A pesquisa concluiu que os internautas dão maior valor para os textos publicados juntamente com imagens caso elas não sejam "felizes". "As pessoas vão aceitar uma foto positiva de você sendo como realmente é. Se a foto for estranha ou negativa, irão buscar mais informações antes de formar uma opinião", declarou Heide.

Nos testes, os participantes do estudo devem avaliar se seus colegas da universidade eram introvertidos ou extrovertidos, em uma escala de 1 a 7, baseando-se em textos e fotos.

Ao ver uma imagem de um colega com seus amigos ou em festas, na maioria dos casos, os participantes o avaliaram como extrovertido, sem se importar com a legenda. "Não importava o que texto do perfil dizia, somente a foto", declarou Heide.

Já no caso de fotos mais retraídas, os textos tiveram um maior peso. Os participantes que leram descrições introvertidas marcaram essas pessoas com um nível significativamente maior de timidez do que as que apenas publicavam fotos mais "divertidas". Entretanto, na situação contrária, as pessoas que se diziam mais abertas não foram avaliadas como tendo um maior nível de sociabilidade – os internautas mal prestaram atenção ao texto.

Em rede sociais, os internautas esperam ver os outros expressando sua felicidade, sucesso e sociabilidade. "Se a fotografia se encaixa nesse perfil, as pessoas não precisam questionar seus julgamentos sobre as características do outro usuário", de acordo com Heide. "Mas se a imagem mostra o que os amigos do internauta não esperam – alguém mais introvertido, por exemplo – eles irão querer ler uma legenda e se esforçar um pouco mais na interpretação."


Disponível em http://idgnow.uol.com.br/internet/2012/03/14/voce-e-julgado-no-facebook-por-suas-fotos-nao-por-textos-diz-pesquisa/#&panel2-1. Acesso em 04 jun 2013.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Para psicólogos, as redes sociais aceleram a fobia social

Stephanie Kohn
06 de Março de 2012

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Maryland (Estados Unidos) levantou uma questão interessante sobre as redes sociais. Será que o Facebook e outros sites de relacionamento virtual podem acelerar o surgimento da fobia social e a depressão? De acordo com Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da PUC/SP, quando uma pessoa já tem pré-disposição ou apresenta sintomas de que não está bem, as redes podem ser uma facilitadora.

O jornalista Gabriel Nunes (nome fictício), que trabalha com mídias sociais e é diagnosticado com fobia social há dez anos, compartilha da mesma opinião. Ele, que já sofreu na pele o que é se esconder por trás das redes, diz que boa parte das vezes que usa a internet ou conhece uma pessoa pela web é pra fugir de sua realidade. Ele até acredita que seu destino profissional de trabalhar com as redes sociais foi uma escolha inconsciente. "Eu parei na comunicação bem de paraquedas e nunca me imaginei trabalhando com isso. Mas, acredito que a facilidade que tenho de mexer nas redes se deve ao fato de eu ter fobia social, já que trabalho com um público que não me vê e não me conhece", explica.

Segundo Luciana, sites como Facebook, Orkut ou Twitter são canais que trazem prazer e preenchem uma lacuna na vida da pessoa como a falta de contato com outros seres humanos. Com isso, é possível que a rede contribua para que o usuário permaneça mais tempo isolado e faça deste ambiente virtual sua fuga. "Uma pessoa que tem dificuldade de se relacionar vai encontrar ali pessoas para participar da vida e, às vezes, este contato virtual é o suficiente", comenta.

Um indivíduo com propensão à depressão e fobia social tende a usar as redes de forma dependente da mesma forma como acontece com as drogas. A pessoa faz daquela prática sua evasão dos problemas. No entanto, a dependência à internet, de acordo com Luciana, não é identificada pela quantidade de tempo gasto na rede, mas sim nas coisas que foram deixadas de lado para que o usuário permanecesse conectado. "Aquele que deixa de fazer coisas e estar entre amigos e família para permanecer conectado também tem maus hábitos na rede", afirma. "O problema não é a ferramenta. É o uso que fazemos dela", completa.

Por outro lado, as redes sociais também podem auxiliar no tratamento da fobia social. A psicóloga conta que, durante a atividade terapêutica, é necessário fazer com que o paciente encontre suas habilidades e, para isso, é possível utilizar ferramentas extras como, no caso, sites de relacionamento. Porém, para que o resultado seja positivo, é necessário que a pessoa tome consciência de que os relacionamentos que ela mantém na rede podem ser transportados à vida real. "Até dá para usar a rede como recurso, mas depende muito do caso. O paciente precisa gostar deste tipo de site e o psicólogo precisa ter familiaridade com estas ferramentas", diz.

No caso de Gabriel, a internet o ajudou a fazer amigos, porque, segundo ele, era mais fácil conversar com alguém sem estar cara a cara. Um dos principais motivos é que na internet você pode construir uma imagem da maneira que quiser, criar uma personalidade que pode ou não ser a verdadeira. Outro ponto positivo, de acordo com Gabriel, é que a web pode ser um caminho para que as coisas aconteçam no mundo real. "Na rede é possível esconder várias coisas como defeitos e traumas, justamente por esta construção de personalidade. Mas, ao meu ver, a internet é mais uma fuga do que uma solução para os problemas", ressalta. "Você até pode se apegar à internet pra fazer com que essa sensação se amenize e, assim, conseguir ter um relacionamento com outras pessoas. Mas, sempre vai rolar uma ponta de desconfiança, sabe?", completou.

Sobre a fobia social

A fobia social também é conhecida como transtorno de ansiedade social, transtorno ansioso social ou sociofobia. Trata-se de uma síndrome ansiosa caracterizada por manifestações de alarme, tensão nervosa e desconforto desencadeadas pela exposição à avaliação social. A condição psiquiátrica, segundo a psicóloga Luciana, é bem difícil de ser revertida, uma vez que se trata de uma pessoa com timidez extrema. 

De acordo com a psicóloga, uma pessoa diagnosticada com fobia social tem vergonha de comer na frente dos outros, não conta dinheiro em público com medo de errar, não fala com estranhos e mal consegue se comunicar com conhecidos. Além disso, ela se sente muito mal em situações que precisa conhecer pessoas novas.

Quer contribuir com a discussão? Você acredita que as redes sociais aceleram a fobia social ou podem ajudar para que as pessoas transportem seus relacionamentos virtuais para a vida real? Escreva nos comentários abaixo. E se você sofre de fobia social, conte-nos quais experiências na web te proporcionaram bons resultados.


Disponível em <http://olhardigital.uol.com.br/jovem/redes_sociais/noticias/as-redes-sociais-aceleram-a-fobia-social>. Acesso em 22 jun 2012.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O apoio da rede social a transexuais femininas

Milene Soares et al
Paidéia
jan.-abr. 2011, Vol. 21, No. 48, 83-92

Resumo: O presente estudo teve como objetivo compreender a relação atual de transexuais femininas com suas redes sociais. Participaram cinco pacientes submetidas à cirurgia de transgenitalização em um hospital público do interior do Estado de São Paulo, Brasil. Elas responderam à entrevista semi-estruturada e a perguntas para a construção de Genogramas e Mapas de Rede. Os dados foram compreendidos de forma qualitativa a partir da teoria sistêmico-cibernética novo paradigmática. As entrevistadas relataram situações em que sentiram apoio, inclusive diante da decisão de operar, mas também descreveram situações nas quais sentiram humilhação e exclusão pelo fato de expressarem e viverem sua sexualidade de forma diferente da maioria das pessoas. O estudo mostrou que ainda prevalece a posição heteronormativa, sustentando preconceitos e atos de discriminação direcionados às mulheres transexuais.