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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O consumo como diferenciação deslocando a identidade de gênero

Lícia Frezza Pisa
Centro Universitário de Franca/Uni-FACEF
COMUNICON 2014 - 8 a 10 de outubro 2014


Resumo: O presente trabalho pretende refletir sobre a questão do consumo na constituição de identidades na contemporaneidade e como o consumo como diferenciação e as tendências, enfatizando o desejo e a busca pelo prazer, podem contribuir para o questionamento da identidade de gênero, fazendo com que o consumidor encontre na androginia um modo autêntico de ser ele mesmo, de auto-realização e também uma forma de luxo pessoal com essa identidade cultural, não mais estando preso às classificações de masculino e feminino. O trabalho justifica-se, pois o tema surge ainda tímido e na marginalidade, porém, é preciso atenção para compreender o rumo que o tema irá tomar nas comunicações midiáticas. O objetivo é refletir, inicialmente por meio de pesquisa bibliográfica, sobre as questões de consumo e identidade e como um pode interferir e/ou refratar no outro e vice-versa.



quinta-feira, 9 de outubro de 2014

“Sou a mesma pessoa”, diz modelo que mudou de sexo

Veja
27/07/2014

A modelo transexual Andreja Pejic, que ficou famosa por sustentar seu estilo andrógino em passarelas como as dos estilistas Marc Jacobs e Jean Paul Gaultier, divulgou esta semana à revista People que passou por uma cirurgia de mudança de sexo. Antes chamada de Andrej, a modelo se tornou assunto ao logo da semana com a revelação e, desde então, tem manifestado seus pensamentos e mensagens de agradecimentos aos fãs em suas redes sociais.

“Todos vocês me ajudaram nesta jornada”, diz Andreja em seu perfil do Instagram. “Creio que todos nós evoluímos conforme ficamos mais velhos e isso é normal. Mas gosto de pensar que minha recente transição não me transformou em uma pessoa diferente. Sou a mesma pessoa, sem nenhuma diferença, exceto a diferença do sexo. Espero que vocês entendam isso.”

Na mesma publicação, o modelo encoraja os jovens transgêneros a serem fortes e a lutarem pelo direito de ser tratados com respeito. “Como uma mulher transexual eu espero mostrar que, após a transformação (um processo que salva vidas), uma pessoa pode ser feliz e bem-sucedida.”

Em entrevista à People, Andreja disse que tornar pública sua cirurgia foi uma atitude política. “Espero que me abrindo sobre isso o assunto se torne menos tabu.” Segundo ela, o desejo de mudar de sexo vem desde a infância. “Eu sempre sonhei em ser uma menina", diz.


Disponível em http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/sou-a-mesma-pessoa-diz-modelo-que-mudou-de-sexo. Acesso em 07 out 2014.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Relações de gêneros e liderança nas organizações: rumo a um estilo andrógino de gestão

Jean Carlo Silva dos Santos
Elaine Di Diego Antunes
Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 10, n. 14, p. 35-60, jul./dez. 2013

Resumo: Trata-se de um ensaio teórico, realizado com base em pesquisa bibliográfica, com o objetivo analisar e descrever como os estereótipos, as diferenças e as desigualdades de gênero constroem barreiras para a ascensão de mulheres a cargos de liderança nas organizações. O ensaio discute também as implicações da gestão andrógina (KARK, 2004) como alternativa de igualdade de oportunidades para homens e mulheres ascenderem como líderes. Por meio da teoria da identidade do papel sexual,são demonstrados os estereótipos socialmente construídos sobre o papel masculino e feminino, os quais estabelecem barreiras para a ascensão da mulher a cargos de prestígio e poder nas organizações, mesmo com a inserção maciça de mulheres no mercado de trabalho. Conclui-se que o estilo andrógino de gestão constitui uma alternativa para o estabelecimento de relações de igualdade de condições e de oportunidades entre homens e mulheres, ao mesmo tempo em que transpõe a polarização existente entre os gêneros e promove sua integração. Enfim, o estilo andrógino de gestão pode ser considerado uma atitude de mudança cultural e comportamental no que diz respeito ao papel social do gênero. O avanço nas pesquisas sobre a liderança andrógina suscita novos caminhos e possibilidades de análise sobre como os indivíduos andróginos percebem e exercem sua liderança e proporciona novas perspectivas para o entendimento dos constructos sociais do papel de gênero e das barreiras que impedem a ascensão profissional das mulheres.





terça-feira, 22 de outubro de 2013

Renata Bastos: “é muito difícil homem assumir relação com travesti”

Iran Giusti
26/09/2013

Quem circula nas baladas mais disputadas da noite paulistana já se deparou com a sua figura imponente nas portas das casas noturnas. Com 1,77m – turbinados, invariavelmente, por um bom salto - a transgênero Renata Bastos exerce com rigor o poder de decidir quem entra ou não nesses lugares. Aliás, ela nem se incomoda com a fama de antipática que a profissão hostess costuma levar.

"Quando sou boa, sou ótima. Quando sou má, sou melhor ainda”, brinca Renata, usando a famosa frase da atriz Mae West para responder a pergunta sobre como lida com os clientes inconvenientes, adeptos da famosa ‘carteirada’.

Mas é preciso entender que a aspereza e a antipatia fazem parte do personagem que Renata encarna no trabalho, mas não da sua vida fora dele. A paulistana da Vila Madalena, de 31 anos, conta sua intensa história para a reportagem do iGay com fala pausada, gestos delicados e um jeito doce.

Aos 14 anos, ela decidiu que já era hora de trocar as roupas de menino pelas de menina. E, sem medo, usou peças femininas num passeio pela Avenida Paulista. Mas a percepção de que era uma garota no corpo de um garoto veio muito antes do que isso.

“Com seis anos, percebi que gostava de um menino, mas uma amiguinha me falou que era errado. Aos nove anos, me apaixonei novamente e dessa vez escrevi uma cartinha pra ele que não entreguei, mas minha mãe achou. Falei que não era minha porque ela reagiu mal”, conta Renata. “Foi só aos 13 anos, quando a minha mãe faleceu, que eu consegui me libertar e me assumir”, acrescenta a hostess, com franqueza.

O medo da minha família não era eu ser uma travesti, era a marginalização do mundo, a prostituição, a violência

Mesmo tendo crescido numa família com tios de cabeça aberta e envolvidos no universo da moda, Renata enfrentou preconceito dentro de casa por se travestir. “O medo da minha família não era eu ser uma travesti, era a marginalização do mundo, a prostituição, a violência”, explica ela.

A situação mudou quando ela começou a se envolver com o universo da moda, trabalhando como modelo, aos 15 anos. “Os jornalistas André Fischer e Erika Palomino me chamaram para trabalhos, me mostraram que a estética andrógina era uma boa para mim. Com bons amigos, meu pai ficou mais tranquilo, entendeu que eu era uma mulher, ele me viu como Renata”.

É uma situação louca. Porque o mesmo menino que me chamava de veado na escola, pedia para ficar comigo a noite, queria sexo oral

Me chama de veado, mas quer sair comigo

Hoje, a aceitação na família é melhor e a relação com o pai é de amizade e cumplicidade. Mas no terreno do amor, Renata ainda não se acertou. “É muito difícil um homem assumir uma relação com uma travesti. Eles têm dificuldade de entender a questão do andrógeno. Eu até fiquei mais feminina por conta disso. Porque muitos me falavam: ‘ela é Renata e não tem peito?’”, avalia a paulistana, que tem planos de implantar silicone nos seios, mas não de fazer a cirurgia de mudança de sexo, pelo menos por enquanto.

Renata enfrenta essa relação complicada com os homens desde a adolescência. “É uma situação louca. Porque o mesmo menino que me chamava de veado na escola, pedia para ficar comigo a noite, queria sexo oral”, relata a hostess, que confessa o desejo de formar uma família. “Quero ter casa, filho, cachorro e fazer churrasco no fim de semana. E com isso, acabo forçando a barra em algumas relações, o que me coloca em situações não tão legais”.

Segundo Renata, muitos homens só percebem que ela é transgênero na hora de ir para cama. “Fui para casa com um cara que conheci em uma festa de hip-hop, mas quando ele mexeu na minha calcinha, e percebeu que eu era travesti, saiu logo pegando o celular, carteira e relógio. Ele achou que eu ia roubá-lo”, lamenta ela, questionando em seguida. “O quê vou fazer nesta situação? Me apresentar e dizer: Oi sou a Renata Bastos e sou transexual?”.

Curiosamente, Renata diz que é muito assediada por lésbicas. “Eu acho bom, é um sinal de que deu tudo certo, que estou feminina. Elas sabem que eu sou travesti, mas tem essa curiosidade. É como o Ney Matogrosso , ele mexe com a libido do homem, da mulher, do gay, de todo mundo”, brinca a hostess, dizendo ainda que não se incomoda com os gracejos, pelo contrário. “No dia em que eu passar na obra e não receber uma cantada, eu vou ficar chateada”.

Meu papel de ativista é viver meu dia a dia e mostrar que é possível ser transexual e ter uma vida, uma carreira

Meu ativismo é existir

Além do trabalhar como hostess e modelo, Renata ainda atua com produção moda e, esporadicamente, como atriz. Ela já participou de filmes como “Carandiru” (2003) e “Crime Delicado” (2005).

Diante de todas as atividades, será que sobra espaço para o ativismo no movimento LGBT? Renata responde a pergunta mais uma vez de forma franca: “Meu papel de ativista é viver meu dia a dia e mostrar que é possível ser transexual e ter uma vida, uma carreira”.


Disponível em http://igay.ig.com.br/2013-09-26/renata-bastos-e-muito-dificil-homem-assumir-relacao-com-travesti.html. Acesso em 14 out 2013.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Androginia: homem russo heterossexual está fazendo sucesso como modelo feminino

Osmairo Valverde
22 de setembro de 2012 

Stanyslas Fedyanin, um homem de 16 anos, morador da cidade de Moscou, Rússia, está ganhando notoriedade mundial por sua estética.

Ele é aclamado como uma incrível modelo feminina internacional. Fedyanin é heterossexual e namora uma mulher que adora sua androginia. Os fotógrafos o chamam de “rei andrógino” por sua capacidade de “roubar” a vaga publicitária que seria destinada para as mulheres.

As críticas são fortes. Não existe uma opinião homogênea sobre o fato de um homem com 1,80 m e 45 kg ser mais feminino e fazer mais sucesso na moda que muitas modelos internacionais.

Sua popularidade na Rússia e em vários países da Europa está aumentando ferozmente. Ele foi contratado pela empresa Dopamin Models, uma grande agência de modelos na Alemanha.

Saiba mais!

O que é uma pessoa andrógina? É a mistura de várias características que tangem o masculino e feminino em uma única pessoa. Um andrógino não se define como homem ou mulher.

A psicologia encara a androginia como um transtorno de identidade de gênero, uma condição em que o psíquico não se vê ou não se identifica com nenhum dos dois sexos, mas como alguém mentalmente híbrido, resultado da misturada dos dois gêneros.

Abaixo você confere fotos de alguns trabalhos importantes que Fedyanin realizou e um vídeo com alguns momentos de sua vida profissional:

Disponível em <http://jornalciencia.com/inusitadas/mundo-estranho/2090-stanyslas-fedyanin>. Acesso em 23 set 2012.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Transhomens: o direito de ser diferente

João W. Nery
27/08/2012

Segundo o que foi veiculado na mídia, sou o primeiro transhomem operado no Brasil: em 1977, em plena ditadura, quando as cirurgias ainda não eram permitidas pelo SUS, fiz as operações para readequar meu corpo, nascido biologicamente feminino, à minha identidade masculina.

Hoje estou com 62 anos e escrevi um livro autobiográfico, “Viagem Solitária – Memórias de um transexual 30 anos depois” (2011, Editora Leya), onde narro todo o trajeto da minha sexualidade, desde a infância até os dias atuais.

A última parte do livro é sobre a grata experiência de viver a paternidade (não biológica). Hoje, meu filho tem 25 anos, é engenheiro e heterossexual. O livro já ganhou dois prêmios e transcende a questão da transexualidade, falando de cidadania e direitos humanos.

A infância foi sofrida, mas consegui uma saída num mundo de faz de conta, através da fantasia. Durante um ano, na minha adolescência, pela pressão social e necessidade de aprovação, me “travesti” e tentei ser uma mulher. Arranjaram-me um namorado, mas nunca tive uma relação sexual com um homem. O meu desejo era de ter o corpo igual ao dele e não de me entregar a ele. Minha orientação sexual sempre foi hetero, no sentido de desejar as mulheres.

Desde os 22 anos eu já aparentava uma androginia e vivia uma dupla vida social, sendo homem para os desconhecidos e mulher no trabalho, amigos e família. Aos 27, consegui me operar clandestinamente, comecei a tomar hormônio (testosterona), mas não terminei as cirurgias. Como na época era impossível entrar na Justiça para uma mudança de nome e gênero, acabei tirando por minha conta um novo registro, com identidade masculina.

Com isso, perdi todo meu currículo escolar e profissional. Antes das cirurgias eu era formado em Psicologia, tinha consultório, dava aulas em três universidades e fazia mestrado. Como homem, virei um analfabeto, tendo que trabalhar como pedreiro, vendedor, pintor, massagista de shiatsu, enfim, em diversas profissões para poder subsistir, porém mais feliz e reconhecido.

O que continua sendo ainda o mais importante para @s “trans” (transhomens e transmulheres) é a questão da documentação, pois a cirurgia no Brasil não garante a automática mudança de identidade e gênero. É necessário que o interessado entre com um processo na Justiça, ficando à mercê do julgamento de algum juiz e de uma possível transfobia. 

Acredito que seja o mundo patriarcal e sexista em que vivemos, o que faz com que as cirurgias se tornem obrigatórias e necessárias para diminuir o sofrimento do não enquadramento. Para isso, somos patologizados como doentes mentais, através da OMS, pelo DSM4, conhecida com o nome de “transtorno de identidade de gênero”. 

Daí ser necessário um laudo psiquiátrico (sem critérios etiológicos), atestando que o indivíduo é um transexual “verdadeiro”. Exige que ele seja tenha 21 anos, se submeta durante dois anos a uma equipe interdisciplinar, para só então fazer a primeira cirurgia, que, no caso dos transhomens, é a “mamoplastia masculina”; a segunda é a “histerectomia” (= retirada dos órgãos reprodutores internos); a maioria para nesta etapa e não faz a “neofaloplastia”, ainda considerada experimental (mas só para os transexuais). Recentemente, tem sido utilizada mais uma nova técnica, a “metoidioplastia” (= soltura do clitóris, que já está aumentado pelo hormônio e com feitura do saco escrotal). 

Os problemas emocionais que os transexuais apresentam são muito mais decorrentes da transfobia que sofrem do que da transexualidade em si. Não temos nenhuma autonomia para decidirmos o que queremos ser. Temos que representar, para acertarmos o “diagnóstico” que o terapeuta imagina ser um transtornado de gênero. E, apesar de ver a “cura” nas cirurgias, só nos oferecem quatro sedes do SUS no Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Goiânia). Acumulam-se filas enormes, sem dar assistência total, como financiar hormônios, próteses e eletrólises. Funcionam com equipes incompletas e também não atendem às travestis, obrigando-as ao mortífero silicone industrial.

De certa forma, já nascemos todos cirurgiados, desde quando nossos pais descobrem com qual corpo chegaremos ao mundo. A partir daí, o nome, roupas, brinquedos e condutas, terão que se submeter aos ditames do mundo da heterossexualidade compulsória. E assim, ao longo da vida, vamos passando por várias caixas: do útero, da família, da escola, do trabalho até o caixão. E se ousarmos sair delas, pagaremos o preço de sermos inferiores, abjetos ou mesmo invisíveis enquanto humanos, como é o caso dos “trans” e dos “intersexos” (= hermafroditas). Ponderamos, hoje, se é um pênis que faz um homem ou uma vagina que faz uma mulher (ver a situação do filme “A Pele que Habito” do cineasta Pedro Almodóvar).

Aliás, já em 1949, Simone de Beauvoir afirmava: “ninguém nasce mulher, torna-se mulher e Judith Butler completa em 1990, sugerindo que “mulher” é algo que “fazemos” mais do que algo que “somos”, é um processo que não tem origem nem fim. Sexo, gênero e sexualidade são construtos sociais, mas naturalizados por um olhar poluído de valores construídos social e historicamente.

Desde algumas décadas que o movimento “queer”, vem corroborar esta visão, onde as pessoas não querem se definir nem como homens nem como mulheres. O processo da formação das identidades sexuadas/”generificadas”/racializadas são construídas para nós e, em certa medida, por nós no interior das estruturas de poder existentes.

A própria concepção binarista “homem X mulher” foi construída a partir de meados do século XVIII. Até então, a mulher era considerada o avesso do homem, quer dizer, tendo o mesmo corpo que ele, apenas com os órgãos sexuais internalizados. Só depois é que inventam o dimorfismo, evidenciando cada vez mais a diferença entre os corpos-sexos, com propósitos sociais, econômicos e políticos, reafirmando o papel da mulher como reprodutora e pertencente ao domínio do privado e, desde sempre, inferior ao homem.

A hegemonia é resultado da cumplicidade dos dominados com os valores que os subalternizam. Por isso atentemos para o nosso comprometimento submetido a um poder, que não está só na esfera do Estado, mas em todas as instituições disciplinadoras e até mesmo dentro dos lares e de nós mesmos – que sofremos seu efeito e ao mesmo tempo, somos seu transmissor.

O poder cria normas e nos habitua a ver a diferença como algo que distingue as pessoas por categorias, em uma ordem hierárquica pré-definida. E o “diferente” está sempre aquém nesta escala. Mas é ele que tem o potencial para fragmentar, denunciar e mesmo transformar esta ordem hegemônica, na medida em que faz o Outro se descobrir como uma parte do diverso. É a anormalidade que vai patentear o reconhecimento do “normal”.

Mais que a necessidade do reconhecimento por direitos iguais, precisamos respeitar o direito de sermos diferentes, diversos.

Disponível em <http://www.cebes.org.br/verBlog.asp?idConteudo=3529&idSubCategoria=56>. Acesso em 07 set 2012.