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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Reposição de testosterona em forma de desodorante chega ao país

Mariana Versolato
20/11/2013

Uma nova droga para repor testosterona em homens com baixos níveis do hormônio deve chegar ao Brasil no próximo mês. A novidade é o formato: o medicamento é aplicado nas axilas, como se fosse um desodorante.

Hoje, existem três remédios de reposição hormonal masculina no país, todos injetáveis. Dois deles são aplicados a cada três semanas e o outro, a cada três meses.

Já o novo medicamento, de uso tópico, deve ser usado diariamente pela manhã, depois do desodorante comum.

Dessa forma, a droga tenta imitar a produção natural da testosterona --que tem níveis mais altos no começo do dia. Com os remédios injetáveis de longa duração, podem ocorrer picos do hormônio logo após as aplicações e níveis baixos no fim do período.

O remédio é colocado em um aplicador usado diretamente nas axilas, o que evita que o produto entre em contato com as mãos e diminui os riscos de contaminar outras pessoas com o hormônio. A dose pode variar de acordo com a recomendação médica. Cada "bombeada" do produto tem 30 mg, e a dose máxima diária, segundo a bula, é de 120 mg. Uma unidade com 110 ml custará R$ 283,93, o que é suficiente para um mês, em média, a depender da dose indicada.    
                 
Indicação

Segundo Miguel Srougi, professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP, a diminuição do hormônio masculino é um processo natural que ocorre a partir dos 40 anos.

Mas não são todos os homens que precisam do medicamento. O urologista afirma que a reposição hormonal só é indicada para homens com níveis baixos de testosterona --os valores normais vão de 300 a mil nanogramas por decilitro-- e queixa de sintomas.

De acordo com estudos, de 3% a 30% dos homens podem ter níveis baixos de testosterona. Desses, só um terço tem sintomas relacionados a essa queda e, portanto, seria candidato ao uso da reposição hormonal.

"Há só três problemas que a reposição pode melhorar: perda de libido, perda de massa muscular e osteoporose. Há médicos que acreditam que há um ganho na memória, que a pessoa vai ficar mais bem disposta, mas não há evidências disso. É tudo ficção", afirma Srougi.

Segundo ele, a queda do hormônio masculino pode ter um efeito desfavorável para a saúde, mas não é responsável por problemas cognitivos decorrentes da idade. A reposição também não é um "elixir" para males como irritabilidade e insônia.

"Há um grupo de críticos que afirma ainda que há um mercado de reposição hormonal que lucra com essa ideia. Surgiu todo um comércio em torno disso. É preciso ter cuidado na indicação", diz.

A reposição hormonal masculina tem seus riscos. Em doses exageradas, pode causar o crescimento das mamas, toxicidade para o fígado, aumento de colesterol "ruim", maior risco de hipertensão e apneia do sono.

O risco de o tratamento causar câncer de próstata foi levantado e já descartado, segundo Srougi, mas, se o paciente já tiver um tumor, a droga fará com que ele cresça mais rapidamente. Por isso, é preciso descartar a hipótese da doença antes de começar o tratamento.

O médico diz ainda que a forma de aplicação do novo medicamento, não injetável, pode aumentar o número de pessoas que farão uso indevido da testosterona, incluindo os adeptos da medicina "antiaging" (que usa hormônios para tentar atrasar o envelhecimento, sem evidências científicas).

Bernardo Soares, diretor médico da Eli Lilly, diz que o risco existe, mas que a droga será vendida com receita. Efeitos adversos e uso fora da indicação da bula serão monitorados pela farmacêutica.


Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/11/1373857-reposicao-de-testosterona-em-forma-de-desodorante-chega-ao-pais.shtml. Acesso em 16 jan 2014.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Transexual paulistana é a mais velha a fazer cirurgia de "troca de sexo"

Mariana Versolato
01/04/2012 - 09h45

A cabeleireira aposentada Andréia Ferraresi, 68, de São Paulo, é a transexual mais velha do país a fazer uma cirurgia para troca de sexo. Registrada ao nascer como Orlando, ela esperava pela operação desde 1979, quando recebeu o diagnóstico de transexualidade. 

Sem dinheiro para pagar pelo procedimento, teve que aguardar até que a cirurgia fosse feita no SUS. Foi operada no dia 27 de fevereiro, no HC. Leia o depoimento concedido por ela à Folha.

"Sofri muito na vida por um conflito de identidade e esperei por essa cirurgia desde 1979, quando procurei o HC e recebi o diagnóstico de transexualidade.

Na época, o SUS não fazia a cirurgia. Quem fazia eram os médicos particulares. Fui a dois e me cobraram um preço exorbitante. Minha mãe disse que não tinha dinheiro e eu entendi. Ela já sofria, se sentia culpada por mim.

Sou a caçula de 11 irmãos e todos eram "normais". Os irmãos que nasceram pouco antes de mim eram homens e minha mãe queria que a última fosse menina. E nasceu uma menina, mas com os órgãos que os outros tinham.

O sofrimento sobrou para mim, com "bullying" na escola e aquele conflito de você sentir uma coisa e não ser o que você sente.

Na infância, só brincava com as meninas. Um dia, no colégio, ganhei uma boneca na rifa e os meninos falaram: "Mariquinha, mariquinha!". Eles pensavam que estavam me ofendendo, mas quanto mais falavam mais orgulho eu sentia da boneca.

Com 14 anos, peguei o vestido da minha irmã. O povo dizia que tinha caído certinho em mim. Minhas vizinhas me deram saias e comecei a usar roupa de mulher.

Quem aceitou mais foi minha mãe. Ela sempre quis me proteger. Mas meu pai e um irmão me perseguiram até eu fazer os exames que provaram que eu era transexual.

Quando saiu o diagnóstico me pediram até perdão. É muito ruim você se sentir reprimida pela própria família.

Ainda teve o regime militar. Os transexuais sofreram demais com perseguições policiais. Cheguei a ficar um mês na prisão, mas o juiz me soltou. Viram que eu não tinha perigo nenhum, nunca fui criatura de beber, de vida fácil. Sempre tive meu trabalho de cabeleireira.

O tempo foi passando até que encontrei o CRT [Ambulatório para Saúde Integral de Travestis e Transexuais do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids], em 2009. Quando cheguei, estava numa depressão fora do comum, um trapo.

Comecei o tratamento com o psiquiatra, tomei remédios por um ano e fui encaminhada para a operação. Sou a primeira do ambulatório a fazer a cirurgia e vou abrir a porta para muitas que precisam.

Idade

O povo dizia: "Mas não é um pouco tarde para você fazer a cirurgia?". E eu respondia: "Não, eu ainda preciso viver, não vivi minha vida! Estou começando só agora".

Eu tenho idade de vovó, mas me sinto forte e feliz. A velhice está na cabeça das pessoas. Os homens, quando passam por mim na rua, falam: "Quanta saúde!".

Se eu puder pegar um forrozinho, eu vou, faço dança do ventre. Um médico me disse: "Do jeito que está indo, a senhora vai viver uns 95". E eu disse: "Quero viver ainda mais, doutor!".

A cirurgia mudou tudo. Esqueci aquele passado de sofrimento. O que interessa agora é daqui pra frente.

Fiquei muito satisfeita com o resultado. Não tem uma cicatriz. Parece que eu nasci assim. Estou até me sentindo mais bonita.

Já uso o nome Andréia Ferraresi porque um juiz me deu autorização, mas agora está correndo o processo de mudança de sexo também no registro. Quero que aconteça rápido porque preciso casar, preciso de um amor.

Estou solteira, mas a minha felicidade é tanta que namorar é coisa secundária. Quero um amorzinho, mas com o pé no chão. Ficar na vida promíscua eu não quero, porque hoje em dia a doença venérea está demais.

Eu transava bastante quando era mais nova e não tinha Aids. Era um tempo bom. Pena que não vivi integralmente com essa periquita (risos).

Hoje me valorizo mais. A vida não se resume em sexo. Não é porque fiz a cirurgia que vou ficar no oba-oba. Eu fiz para mim, para a minha identidade, para me olhar no espelho e ver que sou mulher, não ver aquela coisa estranha que não estava combinando.

A cabeça da gente muda quando sai da mesa de operação. Ela elimina o que você tem de transtorno na sua cabeça. Fui solta de uma gaiola que me aprisionou por todos esses anos.

Hoje, a passarinha está voando, solta, feliz da vida. Os problemas parecem não ter o tamanho que tinham. Antes pensava que se não consegui um emprego era por causa de preconceito.

Hoje dou uma banana pro preconceito. Só importa que estou feliz da vida, mostrando que idade não tem nada a ver."

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1069889-transexual-paulistana-e-a-mais-velha-a-fazer-cirurgia-de-troca-de-sexo.shtml>. Acesso em 01 abr 2012.

terça-feira, 6 de março de 2012

Ansiedade é transtorno mais comum na Grande São Paulo

Mariana Versolato
25/02/2012 - 18h05

Uma pesquisa que mapeou a frequência de doenças mentais na Grande São Paulo mostra que os transtornos de ansiedade, como estresse pós-traumático, fobias e síndrome de pânico, lideram e estão presentes em 20% da população.

Depois vêm os transtornos de humor, como depressão (11%), de controle de impulsos (4,3%) e por consumo de drogas (3,6%).

Os dados são do projeto São Paulo Megacity, um estudo realizado pelo IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo com 5.037 residentes dos 39 municípios da região.
A amostra é representativa das cidades, e as entrevistas foram feitas pessoalmente entre 2005 e 2007.

Dados preliminares já haviam sido apresentados em 2009, mas agora a pesquisa completa, que faz parte de um grande estudo mundial, foi publicada na revista científica "PLoS ONE".
Segundo a psiquiatra Laura Helena Andrade, coordenadora do estudo, a pesquisa procura entender o contexto relacionado a essa prevalência maior.

A violência urbana ajuda a explicar a forte presença dos transtornos mentais na população --54% dos entrevistados relataram ter vivido uma experiência ligada a crimes, como ser vítima ou testemunha de assaltos e sequestros.

Pessoas que vivem em áreas mais pobres e periféricas da cidade também tiveram maior risco de desenvolver os transtornos.

"Cada fator inerente à vida na metrópole, como transporte, violência e acesso a serviços de saúde, tem uma parcela de participação nesse resultado", afirma Paulo Rossi Menezes, professor associado da USP e epidemiologista psiquiátrico que não participou do estudo.

Gravidade

A pesquisa mostrou que 10% da população em São Paulo tem doenças psiquiátricas graves. Esse índice está acima da média de outros 14 países, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nos EUA, a prevalência é de 5,7%.

Só um terço dos brasileiros com transtornos graves recebeu tratamento nos 12 meses anteriores às entrevistas.

"Os transtornos mentais são frequentes, mas pouco reconhecidos e tratados. A sociedade sabe pouco a respeito e há um estigma ligado às doenças", diz Menezes.

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1053547-ansiedade-e-transtorno-mais-comum-na-grande-sao-paulo.shtml>. Acesso em 29 fev 2012.