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sábado, 3 de maio de 2014

Identidades desviantes: do macro ao microcosmo

Alexey Dodsworth Magnavita de Carvalho
Mnemosine Revista - volume 4 - número 2 - jul/dez 2013

Resumo: As tentativas de diagnosticar as assim chamadas "aberrações sexuais" podem ser traçadas nos  últimos dois mil anos da história ocidental. Se a ciência oficial contemporânea centra-se em genes e moléculas (o mundo microcósmico), antigamente o foco era sobre os planetas e as estrelas (o mundo macrocósmico). De acordo com Michel Foucault, essa obsessão em aprender, diagnosticar, esconde um intenso desejo de controlar e subjugar. Uma abordagem científica ingênua, ainda que bem intencionadas, é perigosa, porque muitas vezes ignora as forças políticas que usam o discurso científico para impor a sua vontade de poder. Para Foucault, ao invés de uma "scientia sexualis", precisamos de uma "ars erotica". A questão principal não é "por que eu sou o que eu sou?", Mas "como eu posso extrair prazer de minha própria existência?". A vida como uma obra de arte. O fim do mundo das essências.






quinta-feira, 13 de março de 2014

Como respeitar uma pessoa transexual

Chrystian Sales, Rafael Bemerguy, Eduardo Pinto Lara de Carvalho, Lean

Caso você recentemente tenha conhecido uma pessoa transexual, talvez você ainda não compreenda a sua identidade e, ainda, se sinta inseguro quanto à forma de agir quando está com ela de maneira a não ofendê-la ou magoá-la. O termo “transexual” neste artigo se refere a uma pessoa que não se identifica com o gênero que foi determinado ao nascimento. Há pessoas transexuais ao redor de todo o mundo, e em uma ampla variedade de culturas — na realidade, seria difícil citar um país ou cultura em que não se encontram transexuais. Para estas pessoas, nem sempre é fácil explicar sua situação de gênero na sociedade atual. Leia mais para aprender a entender e respeitar alguém que desafie as suas ideias sobre gênero e que não cai facilmente nas categorias “homem” ou “mulher”.

1 - Respeite sua identidade de gênero. De agora em diante, pense nesta pessoa de acordo com o gênero pelo qual ela se refere a si mesma, com o nome e o gênero gramatical ("o", "a", "ele", "ela" etc.) escolhidos, independente de sua aparência física (a menos que a pessoa ainda não tenha se assumido - pergunte, para saber com certeza, se há momentos inadequados).

2 - Cuidado com o pretérito imperfeito. Quando estiver discutindo o passado, tente não usar frases como “quando você estava no gênero anterior” ou “nascido homem/mulher”- ou, ao menos, tome cuidado quando fizer isso - pois muitos transexuais sentem que sempre foram do gênero com o qual se afirmam, mas tiveram que esconder isso por razões diversas. Pergunte à pessoa transexual como ela gostaria que falassem dela no passado. Uma solução é evitar referir-se ao gênero quando falar do passado, usando outros pontos de referência, como “no ano passado”, “quando você era criança”, “quando você estava no ensino médio”, etc. Se você precisa referir-se à transição de gênero quando estiver conversando a respeito do passado, diga “antes de você assumir o seu verdadeiro gênero” ou “antes do início de sua transição” (quando aplicável).

3 - Use uma linguagem apropriada ao gênero da pessoa. Pergunte qual gênero a pessoa transexual prefere que seja usado em referência a ela, e respeite a sua escolha. Por exemplo, alguém que se identifica como mulher pode preferir palavras e pronomes femininos, como ela, dela, atriz, garçonete, etc. Por outro lado, alguém que se identifique como homem pode preferir termos masculinos como ele, dele, etc. Use o nome que for da preferência da pessoa.
  • O seu amigo João acaba de se revelar como uma pessoa transexual e agora deseja ser chamado de Maria. A partir desse ponto, não diga “este é o meu amigo João, eu conheço ele desde a quinta série”. Ao invés disso, diga “esta é minha amiga Maria, eu conheço ela desde a quinta série”. Discuta qualquer estranheza que você sinta em outro momento, em que você e Maria possam conversar a sós. Definitivamente, se você quer manter a amizade da pessoa, é preciso respeitar o desejo de Maria e se referir a ela como quem ela é hoje, e não como aquela pessoa que você conhecia; apesar do fato de que a pessoa transexual é aquela que você conhecia: você só passou a conhecê-la ainda melhor agora.

4 - Não tenha medo de fazer perguntas[1]. Algumas das pessoas transexuais, mas certamente não todas, responderão a perguntas relacionadas à sua identidade e/ou gênero. Não espere, no entanto, que ela seja a sua única fonte de aprendizagem. É responsabilidade sua informar-se por conta própria. Além disso, se uma pessoa transexual não se sentir confortável respondendo às suas perguntas, não tente “forçá-la a se abrir”. Por último, perguntas sobre órgãos genitais, cirurgias e nomes anteriores devem apenas ser feitas caso você precise sabê-las para oferecer algum cuidado médico, ter relações sexuais com a pessoa transexual, ou caso necessite do nome original por razões legais.

5 - Respeite a busca por privacidade da pessoa transexual. Não exponha-a sem o seu consentimento explícito. Contar às pessoas que você é uma pessoa transexual é uma decisão muito difícil, e não deve ser tomada levianamente. “Tirá-la do armário” sem o devido consentimento é uma grande traição de sua confiança e pode possivelmente custar o seu relacionamento com a pessoa. Dependendo da situação, pode também colocá-la em risco de sofrer uma grande perda — ou até mesmo violência física. Ela contará a quem desejar, se ou quando estiver pronta. Este conselho é apropriado tanto àqueles que vivem como transexuais integralmente como aos que ainda não realizaram sua transição. Muitos dos que vivem integralmente em seu papel de gênero adequado desejarão que as pessoas que não os conheciam em seu gênero anterior não os conheçam em qualquer outro gênero que não seja o atual.

6 - Não pense que você já conhece a experiência da pessoa. Há muitas formas diferentes em que as diferenças de identidade de gênero podem se expressar. A ideia de se estar “aprisionado no corpo de um homem/de uma mulher”, a crença de que mulheres ou homens trans são excessivamente femininas ou masculinos, a crença de que todas as pessoas transexuais querem realizar o tratamento com hormônios e/ou cirurgia, todos são estereótipos, que se aplicam a algumas pessoas mas não a outras. Guie-se pelo que a pessoa lhe disser a respeito de sua própria situação, e escute-a sem noções preconcebidas. Não imponha teorias que você aprendeu, nem presuma que a experiência de outras pessoas transexuais que você conheceu ou a respeito de quem você ouviu falar se aplica à pessoa que está à sua frente. Não presuma que ela realizará a sua transição por traumas passados em sua vida ou que está modificando seu gênero como uma forma de escapar de seu próprio corpo.

7 - Comece a reconhecer a diferença entre identidade de gênero e sexualidade. Não presuma que o gênero de uma pessoa se correlacione à sua sexualidade —não é assim. Há pessoas transexuais heterossexuais, gays, lésbicas, curiosas e assexuais. Se a pessoa revela a você a sua orientação sexual, use os termos que ela usar.

8 - Trate pessoas transgênero mesma maneira. Enquanto ela pode gostar da atenção extra que você a dá, sem dúvida o ato de exagerar não será tão apreciado. Depois de estar bem informado, cuide para não se exceder. Pessoas transexuais têm essencialmente a mesma personalidade que tinham antes de sair do armário. Por isso, trate-as como você trataria qualquer outra pessoa.
  • Esteja disposto a ouvir. Muitas pessoas trans vivem em comunidades pequenas, onde o compartilhamento a sua experiência fica limitado aos seus semelhantes. Muitas vezes, para elas, ser capaz de explicar a sua experiência e instruir as pessoas sobre ela é construtivo tanto para elas quanto para você.
  • Seja direto. Se estiver achando alguma coisa difícil, avise. Para elas, uma reação honesta e direta é bem mais fácil de lidar do que um “corte”.
  • Saia com a pessoa transgênero. Faça disso algo normal – acostume-se com ela no jeito como ela se apresenta, e mais cedo ou mais tarde você vai perceber que não é uma pessoa estranha, mas sim uma pessoa como outra qualquer. No fim, você pode acabar ganhando um(a) grande amigo(a).


9 - Quem começa a expressar um gênero diferente daquele determinado no nascimento está, em geral, passando por um momento que alterará sua vida para sempre. Paciência, compreensão e disposição para discutir as questões trazidas por estas mudanças a ajudarão na passagem por este difícil e emocional período de sua vida. É melhor fazer perguntas abertas, que permitam à pessoa compartilhar tanto quanto lhe for confortável. Por exemplo: “Como vão as coisas”; “Você parece cansado. Quer conversar a respeito?”; “Você parece bastante feliz hoje. Aconteceu algo bom?”; “Como lhe posso ajudar neste período de mudanças?”; “Sou todo ouvidos, caso você queira conversar a respeito de algo”.

Dicas

  • Nem todas as pessoas transexuais buscam a cirurgia de redesignação sexual (CRS). CRS é quase sempre um termo mais apropriado para ser utilizado do que “operação de mudança de sexo”. Não presuma ser mais apropriado perguntar a respeito dos planos de uma pessoa quanto a cirurgias, hormônios etc., do que seria intrometer-se em quaisquer outras questões médicas de qualquer pessoa. Além disso, não presuma que haja apenas um caminho “certo” para a transição (i.e.: que para “realmente ser transexual” ou para “finalizar a transição”, uma pessoa deve realizar uma CRS).
  • A menos que você tenha um relacionamento pessoal e próximo com a pessoa, é rude perguntar qual é seu nome “verdadeiro” ou de nascença — eles consideram o nome escolhido para adequar-se a seu gênero (caso o tenham alterado) como seu nome real, e querem que você pense a respeito deles da mesma maneira.
  • Perguntar a respeito dos órgãos genitais de pessoas transexuais e sobre como elas têm relações sexuais não é apropriado, da mesma maneira que não o é perguntar a respeito da vida sexual aos cissexuais (pessoas cujo corpo naturalmente corresponde à sua preferência de gênero).
  • Muitos creem que a palavra “transexual” é um adjetivo, uma palavra descritiva, ao invés de um substantivo. Outros pensam de forma diferente: da mesma forma que você não chamaria uma pessoa mais velha de “velha” ou dizer que estão “envelhecidas”, é inapropriado se referir a uma pessoa transexual como “uma transexual” sem acrescentar “pessoa”, “mulher”, “homem” ou outro substantivo apropriado. Algumas pessoas transexuais ainda consideram isso como uma atitude objetificadora e desumanizadora.
  • Se você deixar escorregar um “ela” ou “ele” quando queria dizer o outro, logo depois de se conhecerem, não se desculpe excessivamente - só siga a falha com o termo correto e continue o que você estava dizendo.
  • A transexualidade era conhecida medicamente como transtorno de identidade de gênero, mas há demasiada polêmica circundando o termo. Alguns acreditam que o problema consiste na incapacidade da sociedade em reconhecer as variações de sexo e gênero encontradas na natureza (inclusive em seres humanos). Outros criticam esta denominação por tratar a comunidade transexual como patológica, pois implica fortemente que ser uma pessoa transexual é possuir um distúrbio ou problema saúde. Hoje em dia, o termo que possui melhor aceitação na comunidade transexual e médica é disforia de gênero.
  • Algumas pessoas acreditam que a única “cura” para uma pessoa transexual é corrigir a aparência física (com cirurgia e/ou hormônios) para se adequar à identidade de gênero mental. Segundo essa visão, o problema é com o corpo, e não com a mente. Evidências e autoridades médicas atuais apoiam a eficácia desses tratamentos. Alguns acreditam que o problema são as expectativas da sociedade relativas ao gênero e as limitações para homem e mulheres, e precisam refletir uma maior aceitação da variedade de expressões de gênero para ambos os sexos.
  • Algumas pessoas transexuais responderão a perguntas confortavelmente, enquanto outras não. Se uma pessoa transexual não parecer confortável com questionamentos ou não deseja responder a algo, não a force. Se você realmente precisa saber de algo, use os recursos aqui presentes.
  • Páginas como My True Gender, PlanetOut, Facebook e MySpace possuem grupos outras seções dedicadas a transexuais; vá até elas para manter contato ou aprender mais a respeito.

Avisos

  • Evite o uso de gírias transfóbicas, como “travesti”, “traveco”, “veado” ou “sapatão”. Estes termos são opressivos, objetificadores e desumanizantes.
  • Não realize comparações com pessoas não-transexuais, direcionando-se a elas como um garoto ou garota “reais” ou “normais”. O que faz de um homem um homem “de verdade” ou de uma mulher uma mulher “de verdade” é a forma com a qual se identificam a si mesmos, e não como outra pessoa percebe ou classifica seus corpos. Um homem transexual não é menos homem do que um homem cissexual, e uma mulher transexual não é menos mulher do que uma mulher cissexual.
  • Nunca diga a uma pessoa transexual que as pessoas não as compreenderão ou amarão por causa de sua identidade transexual. Isso é incrivelmente doloroso, e ainda mais, não é verdade. Muitas pessoas transexuais são compreendidas, aceitas e amadas.
  • Mesmo que você tenha objeções à identidade transexual da pessoa, você deve sempre respeitá-la e jamais envergonhá-la propositalmente em público. Causar vergonha ou humilhação à pessoa transexual jamais trará o bem a ninguém, e fazê-lo pode ser algo perigoso a ela.
  • Tome muito cuidado quando se referir à identidade transexual de alguém como uma “escolha”. A disforia de gênero, por sua própria definição, não é de forma alguma uma escolha .[2] Algumas pessoas transexuais descrevem à sua identidade como uma escolha, e algumas não. Para alguns, a “escolha” foi alterar seus corpos para adequar-se à mente. Encontre maneiras de respeitar a identidade de uma pessoa que não se baseiem no fato de ela optar ou não por ela.
  • Intersexual é um termo geral usado para diversas situações nas quais uma pessoa nasceu com uma anatomia sexual e/ou reprodutiva que não se adequa às definições típicas de masculino ou feminino.[3] Enquanto algumas pessoas intersexuais são também transexuais, os dois conceitos são distintos e não devem ser confundidos.[4]


Fontes e Citações
1.http://www.autostraddle.com/how-to-talk-to-a-transperson-76785/
2.http://en.wikipedia.org/wiki/Transsexuality#Gender_dysphoria
3.http://www.isna.org/faq/what_is_intersex
4.http://www.survivorproject.org/is-intro.html


Disponível em http://pt.wikihow.com/Respeitar-uma-Pessoa-Transexual. Acesso em 04 mar 2014.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Vida sexual do brasileiro está “meia-boca”, diz estudo

Luciana Carvalho; Julia Carvalho 
23/01/2014

Ao mesmo tempo em que metade (49%) dos brasileiros afirma ter mais de três relações sexuais por semana, praticamente a mesma proporção de pessoas no país está insatisfeita nesse quesito. Pelo menos é isso que indica a Durex Global Sex Survey, pesquisa feita com 1.004 participantes no Brasil, entre 18 e 65 anos, a pedido da marca de preservativos Durex. De acordo com os dados do estudo, o descontentamento existe para 51% dos homens e 56% das mulheres.

Isso contrasta com a informação de que, para a maioria dos homens (69%) e mulheres (58%), satisfazer o parceiro é um dever. O levantamento, feito a cada dois anos em 37 países, tem a intenção de traçar um perfil sexual da população, e avaliar suas dúvidas e aspirações. Em meio a números e diferentes comportamentos, é possível ver que, por trás da aparência liberal, o brasileiro ainda tem relacionamentos permeados por tabus.

Um exemplo disso é o fato de que só 7% das pessoas afirmam não ter tabus. Segundo a Durex Global Sex Survey, 65% dos homens e 63% das mulheres declararam ter dificuldade de admitir que têm problema sexual. Apesar de os números serem parecidos, são as mulheres que parecem sofrer mais com isso. Enquanto 52% dos homens disseram que sempre atingem o orgasmo em suas relações sexuais, somente 22% delas deram a mesma resposta. Além disso, 51% das mulheres já sentiram dor durante o ato sexual e 32% já perderam a libido em algum momento da vida.

Outros reflexos dos tabus em torno do assunto na sociedade brasileira são as questões sobre sexo no primeiro encontro e traição. As mulheres ainda se mostram mais conservadoras nesses dois aspectos, apesar de estarem mais flexíveis em relação ao passado. A pesquisa mostrou de 39% delas ainda consideram errado fazer sexo já no primeiro encontro, enquanto 24% deles pensam da mesma forma. Sobre traição, 91% das mulheres consideram que fazer sexo com outra pessoa é uma maneira de ser infiel. O número cai para 78% quando o mesmo é perguntado para os homens.

Apesar dos dados não tão satisfatórios e dos tabus, a pesquisa mostra também o lado positivo da sexualidade brasileira. Para a maior parte dos entrevistados (69%), é possível manter o desejo vivo até mesmo em relacionamentos de longo prazo. Além disso, se comparado com o resto do mundo, o perfil do brasileiro pareceu ser mais liberal, indo além da penetração para obter prazer. Os números do país superaram a média mundial em todos os quesitos que diziam respeito a sexo oral, masturbação, massagem sensual e penetração anal.

O Brasil também superou os outros países no que diz respeito ao uso de preservativo na primeira relação. Entre brasileiros, o índice foi de 66%, enquanto na Grécia, que ficou em segundo lugar, foi de 65,5% e na Coreia do Sul foi de 62,8%, ficando em terceiro.

Confira a seguir alguns dos números revelados na pesquisa.

 Homens (%)Mulheres (%)
Insatisfeitos5156
Têm dificuldade de assumir problema sexual6563
Sempre chegam ao orgasmo5222
Quase sempre chegam ao orgasmo1418
Com muita frequência chegam ao orgasmo99
Com alguma frequência chegam ao orgasmo1419
Às vezes chegam ao orgasmo618
Raramente chegam ao orgasmo310
Nunca chegam ao orgasmo03
Já sentiram dor durante o ato-51
Já tiveram perda de libido durante a vida1632
                              

Frequência%
Mais de 3 vezes por semana49
Uma a duas vezes por semana33
Pelo menos uma vez por semana82
Uma vez por mês15
Diariamente (homens)12
Diariamente (mulheres)5
               
Tempo para preliminares%Duração do ato%
0 a 5 minutos150 a 5 minutos13
6 a 15 minutos406 a 15 minutos36
16 a 30 minutos3216 a 30 minutos33
Mais de 30 minutos13Mais de 30 minutos17
                                              
TabusHomens (%)Mulheres (%)
Não aprovam sexo no primeiro encontro2439
Aprovam sexo no primeiro encontro5840
Não aprovam nem desaprovam sexo no primeiro encontro1721
Fazer sexo com outra pessoa é traição7891
                              
Benefícios do sexoHomens (%)Mulheres (%)
Melhora o humor6372
Diminui o estresse5967
Faz sentir-se mais saudável6159
Tornam-se parceiros melhores5448
Sentem-se mais atraentes2625
                              
Versalidade na camaBrasil (%)Mundo (%)
Receber sexo oral5033
Fazer sexo oral4832
Receber masturbação3622
Fazer masturbação3421
Fazer ou receber massagem sensual2216
Fazer ou receber penetração anal186


Disponível em http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/vida-sexual-do-brasileiro-esta-meia-boca-diz-estudo?page=1. Acesso em 25 jan 2014.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Homossexualidade pode ser influenciada pela epigenética

Ricardo Carvalho
12/12/2012

Do ponto de vista evolutivo, o fato de a homossexualidade ser algo bastante comum na sociedade humana, ocorrendo em cerca de 5% da população mundial, é intrigante. Como homossexuais produzem menos prole do que heterossexuais, uma possível variação genética relacionada à homossexualidade dificilmente seria mantida ao longo das gerações. "Isso é muito enigmático a partir de uma perspectiva evolucionária: como a homossexualidade pode existir em uma frequência tão alta a despeito do processo de seleção natural?", diz em entrevista ao site de VEJA Urban Friberg, do departamento de Biologia Evolutiva da Universidade de Uppsala, na Suécia. Friberg, ao lado de William Rice, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, e Sergey Gavrilets, da Universidade do Tennessee, ambas nos Estados Unidos, pode ter encontrado uma resposta: o fator biológico ligado à homossexualidade não estaria na genética propriamente dita, e sim em um conceito conhecido por epigenética. Os resultados foram publicados nesta terça-feira no periódico científico The Quarterly Review of Biology

A epigenética trata de modificações no DNA que sinalizam aos genes se eles devem se expressar ou não. Esses marcadores não chegam a alterar nossa genética, mas deixam uma marca permanente ao ditar o destino do gene: se um gene não se expressa, é como se ele não existisse.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Homosexuality as a Consequence of Epigenetically Canalized Sexual Development.

Onde foi divulgada: The Quarterly Review of Biology

Quem fez: William Rice, Urban Friberg e Sergey Gavrilets

Instituição: Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, Universidade de Uppsala e Universidade do Tennessee.

Resultado: O artigo estudou um possível componente hereditário para, a partir de um ponto de vista evolutivo, explicar a homossexualidade. Os três autores montaram um modelo segundo o qual uma marca epigenética (epimarca), que regula a sensibilidade à testosterona em fetos, pode ser transmitida de mãe para filho e de pai para filha e influenciar na orientação sexual.

Essa nova teoria vai ao encontro de outra tese mais antiga, a de que a homossexualidade é definida, ao menos em parte, por um componente hereditário. Pelo menos quatro grandes estudos, publicados em 2000, 2010 e 2011, nos periódicos Behavior Genetics, Archives of Sexual Behavior ePLoS ONE, apontam para esse fator na origem da orientação sexual, a partir de estudos com gêmeos monozigóticos (também chamados de idênticos ou univitelinos, produtos da fertilização de um único óvulo) e dizigóticos (também chamados de fraternos ou bivitelinos, produtos da fertilização de dois óvulos diferentes). 

Epigenética — Imagine o material genético humano como um manual de instruções. Os genes formariam o conteúdo do livro, enquanto as epimarcas ditariam como esse texto deveria ser lido. "A epigenética altera e regula a forma como os genes se expressam", explica a geneticista Mayana Zatz, do departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo (USP). É por meio dos comandos epigenéticos, por exemplo, que o pâncreas fabrica apenas insulina, apesar de as células nesse órgão terem genes para a produção de muitos outros hormônios.

Acreditava-se que os traços da epigenética não eram hereditários, sendo apagados e recriados a cada passagem de geração. Como pesquisas nas últimas décadas mostraram que uma fração de epimarcas é, sim, passada de pais para filhos, Friberg, Rice e Gavrilets julgaram ter encontrado a peça que faltava para montar o quebra-cabeça. 

Sensibilidade – Os três criaram um modelo segundo o qual uma dessas epimarcas transmitidas hereditariamente é o marcador responsável por regular a sensibilidade à testosterona de fetos no útero materno. Ao longo da gestação, tanto fetos masculinos quanto femininos são expostos a quantidades variadas do hormônio, sendo que o fator epigenético estudado no artigo torna o cérebro dos meninos mais sensíveis à testosterona quando os níveis estão abaixo do normal. Isso acontece para preservar características masculinas, podendo inclusive influir na orientação sexual. O mesmo ocorre, mas inversamente, com as meninas. Quando a testosterona está acima do normal, a epimarca funciona como uma barreira, diminuindo sua sensibilidade ao hormônio. 

A partir desse modelo, a homossexualidade poderia ser explicada pela transmissão de epimarcas sexualmente antagônicas. Ou seja: quando o pai transmite seus marcadores, que tiveram a função de torná-lo mais sensível à testosterona, para uma filha. De igual maneira, esse material hereditário pode ser passado de uma mãe para um filho, tornando-o menos sensível à testosterona.

"Quando os efeitos desse mecanismos (que regulam a sensibilidade à testosterona) não são apagados entre as gerações, eles se expressam na prole do sexo oposto. Isso pode resultar em indivíduos que desenvolvem preferências sexuais pelo mesmo sexo", explica Friberg, da Universidade de Uppsala. "O que fizemos foi colocar pela primeira vez o conceito da transmissibilidade epigenética no contexto de desenvolvimento sexual."

O pesquisador faz questão de ressaltar que ainda não se pode provar que a epimarca específica da sensibilidade à testosterona é hereditária. Para tanto, testes específicos precisarão ser realizados. "Uma grande solidez do nosso estudo é que o modelo epigenético para a homossexualidade faz predições que são testáveis com tecnologia já existente. Se o nosso modelo estiver errado, pode ser rapidamente descartado", escrevem os autores no artigo do The Quarterly Review of Biology.

Outro pesquisador envolvido, Sergey Gavrilets, da Universidade do Tennessee, afirma que mesmo que a teoria da hereditariedade seja respaldada por futuros estudos, o debate está longe de acabar. "A hereditariedade explica apenas parte da variação na preferência sexual. As razões, que podem ser sociais, culturais e do ambiente, permanecerão como um tópico de intensa discussão." 

"Estudo positivo" – Carmita Abdo é coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ela destaca que a nova pesquisa é positiva, uma vez que contribui para a melhor compreensão dos fatores biológicos envolvidos na ocorrência da homossexualidade. "O trabalho é importante porque reforça uma ideia cada vez mais prevalente: a de que a genética — no caso a epigenética — tem influência sobre a orientação sexual."

Essa compreensão científica tem sido importante, segundo Carmita, no combate a mitos que envolveram o tema e que alimentaram interpretações preconceituosas. "Até pouco tempo atrás, achava-se que a orientação sexual era proveniente de uma escolha, como se deliberadamente o indivíduo optasse por ser homossexual. Muito do preconceito contra os homossexuais advém daí", afirma, lembrando que até o início dos anos 90 a homossexualidade era tratada como um transtorno de preferência, e não como uma característica. "Observar um fenômeno pelas lentes da ciência muda a compreensão e ajuda a deixar de lado certas discriminações. Nesse caso em particular, você remove da equação a ideia de que o homossexual é responsável por uma opção que muitos veem como negativa, pejorativa."

Ela ressalva, entretanto, que ainda existe muita incerteza no campo e que a orientação sexual precisa ser encarada como produto de vários fatores. "O estudo reforça a ideia segundo a qual existe uma predisposição que vai ser confirmada ou não a partir de uma serie de influências que vão ocorrer ao longo da vida, algumas delas de ordem cultural, educacional e social. Ele não consagra uma interpretação determinista, nem diz que tudo depende dos genes".

"Nosso objetivo é entender como as preferências sexuais se desenvolvem e evoluem"
Urban Friberg - Professor do Departamento de Biologia Evolutiva da Universidade de Uppsala, na Suécia

Qual o principal objetivo da pesquisa?
Assume-se que indivíduos homossexuais produzem menos prole do que heterossexuais. Qualquer codificação genética para homossexuais deveria, portanto, ser rapidamente removida no processo de seleção natural. Apesar disso, a homossexualidade é relativamente comum entre humanos (cerca de 5%). Além do mais, os melhores estudos disponíveis mostram que há um componente hereditário na homossexualidade. Isso tudo é muito intrigante de uma perspectiva evolucionária: como a homossexualidade pode existir em frequências tão significativas apesar da seleção contra ela? O objetivo da nossa pesquisa foi simplesmente tentar resolver esse enigma, o que nos ajuda a entender como as preferências sexuais se desenvolvem e evoluem.

Como a mudança de foco de genética para a epigenética pode ser explicada?
Nossa principal contribuição é trazer uma explicação lógica para o porquê de a homossexualidade ser algo tão frequente – e para tanto nós mudamos o foco, como causa da homossexualidade, de genes para epimarcas. Nossa teoria sugere que a homossexualidade é resultado de um mecanismo que ajuda as pessoas a desenvolver a preferência por indivíduos do sexo oposto. Quando os efeitos desses mecanismos (epimarcas) não são apagados entre as gerações, eles se expressam na prole do sexo oposto. Isso pode resultar em indivíduos que desenvolvem preferências sexuais pelo mesmo sexo.

Como a comunidade científica lida com genética e homossexualidade?
Houve diversos estudos nos quais os pesquisadores tentaram encontrar genes associados com a homossexualidade. Tais estudos falharam e nenhum gene foi identificado. O resultado disso tudo é intrigante, uma vez que a homossexualidade tem um componente hereditário. Nossa teoria, porém, é capaz de explicar por que a homossexualidade é tão comum e tem um componente hereditário, sem nenhuma codificação genética para esse traço.

Encontrar uma possível explicação biológica ajuda a combater o preconceito?
Atualmente, algumas pessoas acreditam que a homossexualidade é uma escolha pessoal e que indivíduos homossexuais podem ser ensinados a escolher de forma diferente a sua orientação sexual. Eu acredito que encontrar as raízes da preferência sexual mina tais mitos e ajuda as pessoas a melhor entender e aceitar a homossexualidade.

Disponível em http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/homossexualidade-pode-ser-influenciada-pela-epigenetica. Acesso em 14 dez 2012.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Aliciados para virar transexuais acabam em endereços perigosos

Cleide Carvalho
Publicado:11/02/12 - 20h07 - Atualizado:12/02/12 - 9h21

Pobres em seus estados de origem — alguns admitem que faziam pequenos furtos para ganhar a vida no Nordeste —, os garotos atraídos a São Paulo pela rede de pedofilia sonham com a Avenida Indianópolis, mas a maioria vai parar mesmo em endereços menos nobres e mais perigosos. Neles, não precisa ser frequentador habitual para perceber a presença da mão pesada do tráfico de drogas. Nas travessas da Avenida Cruzeiro do Sul, na vizinhança da Rodoviária do Tietê, vários dos jovens transexuais se oferecem drogados.

B. veio de Sobral, no Ceará. Está há seis anos em São Paulo e diz que completou 18 anos em outubro passado. Não recebeu próteses de silicone, apenas injeções em algumas partes do corpo. Olho embaçado, sonha em colocar a prótese de silicone nos seios até julho. Posicionado a um quarteirão da avenida, diz que o valor mais alto que consegue por programa é R$ 50, ajeitando um vestido cor de rosa bem curto.

— As que têm mais peito cobram mais — conforma-se. Thales César de Oliveira, promotor de Infância e Juventude, diz que os adolescentes são atraídos pelo ganho e não têm ideia de que terão de alterar completamente o corpo: 
— Muitos não têm noção de que é uma mudança sem volta.

Oliveira afirma que o Ministério Público de São Paulo sabe da existência de uma rede de pedofilia e há frentes de investigação. No ano passado, um homem acusado de comandar a parte da rede que trazia adolescentes de Belém foi morto em confronto com a polícia paulista ao resistir a uma ordem de prisão. Na ocasião, 70 travestis, entre eles menores de idade, foram encontrados vivendo precariamente em duas pensões no Centro de São Paulo. Os adolescentes foram devolvidos às famílias.

— Não sabemos se é a mesma rede que se rearticulou ou se é outra — afirma. Segundo ele, a polícia de São Paulo recebeu informações de que o comando da rede estaria no Nordeste, mas não há um grupo conjunto de investigação interestadual para troca de informações entre as polícias e os Ministérios Públicos.

De vestidinho vermelho e nariz arrebitado, R. conta que chegou há um ano e três meses de São Luiz e acredita não ter outra saída a não ser modificar o corpo:
— A gente nasce mulher.

A mais velha do grupo tem 30 anos e cabelos compridos e encaracolados. Veio de Manaus.
— Elas (as cafetinas) incentivam a transformação. E cobram mais em cima disso —explica.
Num bar nas imediações da Avenida Industrial, repleto de homens de comportamento intimidador, Luciane, 22 anos, conta que chegou há menos de um ano do Piauí e só quer colocar prótese no seio, sem injetar silicone, porque tem receio.

Uma transexual mais velha, de enormes seios caídos, interrompe:
— Rejeição depende do corpo de cada um. E de quanto de dinheiro você tem para pagar. De cabelos ainda curtos e brincos baratos, Luciane é chamada por um dos homens e some de cena. O bom senso diz que é melhor não ficar muito tempo ali.


Disponível em <http://oglobo.globo.com/pais/aliciados-para-virar-transexuais-acabam-em-enderecos-perigosos-3950772>. Acesso em 16 fev 2012.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Meninos são aliciados para virar transexuais em SP

Cleide Carvalho
Publicado:11/02/12 - 20h08
Atualizado:12/02/12 - 9h22

Magra, cabelos compridos, short curto. M., 16 anos, abre o sorriso leve e ingênuo dos adolescentes quando perguntada se pode dar entrevista. Poderia ser uma das milhares de meninas que sonham com as passarelas. Mas não é. O relógio marca 1h de sexta-feira. M. é um garoto e está na calçada, numa das travessas da Avenida Indianópolis, conhecido ponto de prostituição de travestis e transexuais, escancarado em meio a casas de alto padrão do Planalto Paulista, na Zona Sul de São Paulo. A poucos passos, mais perto da esquina, está K., também de 16 anos.

— Sou muito feminina. Não tem como não ser mulher 24 horas por dia — diz K. M. e K. são a ponta do novelo que transformou São Paulo num centro de tráfico de adolescentes nos últimos cinco anos. Meninos a partir de 14 anos são aliciados no Ceará, no Rio Grande do Norte e no Piauí e, aos poucos, são transformados em mulheres para se prostituírem nas ruas de São Paulo e em países da Europa. Misturados a travestis maiores de idade, eles são distribuídos em três pontos tradicionais de prostituição transexual em São Paulo: além da Indianópolis, são encaminhados para a região da Avenida Cruzeiro do Sul, na Zona Norte, e Avenida Industrial, em Santo André, no ABC paulista.

O primeiro contato é feito por meio de redes de relacionamento na internet. Uma simples busca por “casas de cafetina” leva os garotos a perfis de aliciadores, que são homens, mulheres e travestis. Após o primeiro contato, pedem que o adolescente encaminhe uma foto por e-mail, para que seja avaliado. Se for considerado interessante e “feminino”, eles têm a passagem paga pelos aliciadores. Ao chegar a São Paulo, passam a morar em repúblicas de transexuais e a serem transformados. Recebem inicialmente megahair e hormônios femininos. Quando começam a faturar mais com os programas nas ruas, vem a oferta de prótese de silicone nos seios. Os escolhidos para ir à Europa chegam a ser “transformados” em tempo recorde, apenas cinco meses, para não perder a temporada na zona do euro.

É fácil identificar os adolescentes recém-chegados. Além do corpo típico da idade, eles têm seios pequenos, produzidos por injeção de hormônios, e megahair. Testados inicialmente na periferia, os meninos são distribuídos nos pontos de prostituição de acordo com a aparência. Os considerados mais bonitos recebem investimento mais alto e vão trabalhar na área nobre da cidade. Na Avenida Indianópolis, recebem R$ 70 por um programa no drive in e R$ 100 se o programa for em motel. Nos outros dois endereços, o valor é bem mais baixo: entre R$ 30 e R$ 50 no drive in e R$ 70 a R$ 80 em motel.

Menores evitam ruas principais

Não faltam interessados. A partir de 17h, homens na faixa de 30 a 50 anos aproveitam o fim do expediente para, antes de seguir para casa, fazer programas rápidos com os transexuais na Indianópolis. Um furgão preto, com insulfilme, faz o transporte de vários transexuais. Mas, nesse horário de maior movimento, dificilmente os menores ficam à vista nas calçadas.

Por existirem há décadas, os pontos de prostituição de travestis são vistos com naturalidade pelos moradores de São Paulo. Afinal, se prostituir não é crime. Por isso, a rede criminosa se mistura aos transexuais mais antigos. Assim como eles recebem a proteção da Polícia Militar para não serem agredidos por grupos homofóbicos, os novos fios do novelo se entrelaçam, dando à rede de tráfico internacional de adolescentes o mesmo aparato de segurança e legalidade que é dado aos transexuais ditos “independentes”.

Em geral, os transexuais adolescentes ficam nas travessas, atrás dos grupos de maiores de idade, que ficam quase nus e são extremamente expansivos. Pacíficos, os dois grupos convivem bem com a vizinhança, exceto pelo constrangimento proporcionado pelos mais velhos (acima de 25 anos) sem roupa ou exibindo partes íntimas ou siliconadas.

Os adolescentes são mais discretos, menos siliconados e “montados”. A aparência de menina é mais natural. Os implantes de silicone nos seios são menores, num apelo direcionado aos pedófilos. Eles usam saias e shorts curtinhos, como M. e K., e podem ser facilmente confundidos com meninas.

Como na Indianópolis prostitutas e travestis dividem espaço, clientes são surpreendidos pela nova leva de jovens vindos de outros estados, de aparência cada vez menos óbvia. Y., 19 anos, é um dos transexuais que fazem aumentar a confusão. Aos 15, foi levado a São Paulo pela rede de prostituição e pedofilia.

— A cafetina viu que eu era feminina e que ganharia muito dinheiro. Minha mãe assinou autorização para eu viajar, e vim de avião. Ficou preocupada, como toda mãe, mas deixou — conta. Inicialmente, foi levado a trabalhar na Avenida Industrial, em Santo André, no ABC paulista. Pagava R$ 20 pela diária na república, sem almoço.

— Quem não tivesse os R$ 20 tinha de voltar para a rua, não entrava enquanto não conseguisse — diz ele. Mesmo sem ter sido transformada, já chamava atenção. Logo começou a faturar R$ 250 por dia. Aos 16 anos, recebeu “financiamento” para colocar prótese de silicone no seio. O implante foi feito por cirurgião plástico. Custou R$ 4 mil, mas Y. teve de pagar R$ 8 mil à cafetina, pois não tinha dinheiro para quitar à vista.

Y. diz que aceitou porque queria ficar feminina logo. Neste mercado, os seios são vistos como principal atributo. Quanto mais aparência de mulher, mais os clientes pagam. Agora, a jovem mora sozinha num flat e paga seu aluguel. Diz que divide o espaço da avenida tranquilamente e já não deve nada a ninguém. Faz entre seis e 10 programas por noite, afirma, enquanto lança olhares às dezenas de carros que passam rente à calçada, não se sabe se por curiosidade ou atração fatal.



Disponível em <http://oglobo.globo.com/pais/meninos-sao-aliciados-para-virar-transexuais-em-sp-3950782>. Acesso em 16 fev 2012.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Travestis e Transexuais na Política: ou como “doidas e putas” se tornam “respeitáveis militantes”

Mario Felipe de Lima Carvalho
Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
IX Reunião de Antropologia do Mercosul - 10 a 13 de julho de 2011 – Curitiba, PR


Resumo: Este trabalho é resultado das investigações realizadas para minha dissertação de mestrado no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS-UERJ). O objetivo dessa pesquisa foi investigar os discursos relativos à diferenciação entre as identidades coletivas de travestis e transexuais no âmbito do movimento LGBT brasileiro e sua repercussão nas demandas e proposições de políticas públicas, assim como na própria organização do movimento.




domingo, 5 de fevereiro de 2012

Que mulher é essa? Uma encruzilhada identitária entre travestis e transexuais

CARVALHO, Mario Felipe de Lima
Mestrando em Saúde Coletiva no Instituto de Medicina Social da UERJ


Resumo: Este trabalho não pretende discutir a travestilidade e a transexualidade como conceitos a serem criteriosamente definidos, diferenciados ou aproximados; mas, a partir de relatos de pessoas que se colocam como travestis e transexuais, buscar uma compreensão das condições sociais que possibilitam a construção de uma identidade ou categoria transexual como deslizamento ou resignificação da vivência travesti. É importante lembrar que hoje há um esforço dentro do movimento LGBT por uma definição fixa que diferencie travestis de transexuais, e que não é nosso objetivo resolver este debate que faz parte das disputas políticas dos movimentos sociais e das proposições de políticas públicas identitárias. Além disso, sustentamos nossa hipótese da identidade transexual como deslizamento da identidade travesti no surgimento histórico das duas categorias no movimento LGBT e no âmbito médico.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Não há empresa 100% tolerante à diversidade

Luciana Carvalho, de EXAME.com
13/10/2010 | 11:55

Cor, gênero, religião, orientação sexual, etnia e várias outras características pessoais (físicas ou não) são, muitas vezes, determinantes para a contratação ou eliminação de uma pessoa em uma empresa. De acordo com Paul Terry, vice-presidente da consultoria americana Global Novations, mesmo com os avanços de alguns grupos específicos, ainda há um longo caminho a ser seguido até que as chamadas minorias façam parte de forma mais maciça das empresas.

O especialista afirma que, por mais que algumas companhias tenham políticas internas para a promoção da diversidade, nenhuma conseguiu se livrar dos preconceitos ainda. Em entrevista ao site EXAME, Terry fala sobre como as organizações devem se comportar diante desta questão.

Site EXAME - Existe  algum exemplo de empresa que o senhor considera mais tolerante às diferenças?
Paul Terry - Algumas empresas e países são mais tolerantes em alguns aspectos e outras são tolerantes em outros aspectos. Por isso, eu não diria que há um país ou organização que seja 100% tolerante. Algumas das maiores empresas, como Google e Microsoft, têm feito um bom trabalho em integrar pessoas que têm diferenças culturais e raciais. Mas isso não significa que elas aceitam todos os tipos de diversidade. Todo mundo ainda está se esforçando para melhorar. Há também muitas empresas que têm boas políticas para diversidade, mas isso não significa que elas sigam essas políticas.

Site EXAME - E há algum grupo específico que sofre mais preconceito?
Terry - Eu não diria que há um grupo que sofre mais preconceito globalmente. Eu acho que isso varia de acordo com cultura, país ou geografia. Por exemplo, eu sei que, em algumas culturas asiáticas, as pessoas não podem mencionar coisas a respeito de orientação sexual. Em outras culturas é mais fácil falar de orientação sexual, mas é mais complicado falar de outras diferenças. Há também culturas em que as pessoas acham que são mais abertas, mas adotam comportamentos que dificultam a aceitação das outras pessoas, seja por questões étnicas ou outras.

Site EXAME - Quais são os desafios que uma empresa enfrenta para ter diversidade em seu quadro de pessoas?
Terry - Acho que as pessoas precisam entender que as diferenças ultrapassam gênero, raça ou geração, ou orientação sexual. Por exemplo, eu posso pensar de forma diferente de outras pessoas, posso processar informações de forma diferente, posso ter uma educação diferente. Algumas vezes, nós achamos que as pessoas melhores são aquelas parecidas conosco, e a chave para uma empresa ser mais tolerante é ter consciência de que há diferenças. Em segundo lugar, é preciso que elas valorizem e apreciem essas diferenças, pois elas podem agregar valor ao trabalho.

Site EXAME - E como agir para ser justo em um processo seletivo?
Terry - As organizações devem ter critérios muito claros sobre contratações. Deve separar o que é realmente exigido do candidato daquilo que é apenas desejado. Há vezes em que nós temos alguns critérios do que a gente prefere, de uma certa habilidade ou qualidade, mas não é propriamente um pré-requisito. Precisamos ficar sempre abertos, pois, se selecionarmos realmente com base nos critérios que estabelecemos, o número de possibilidades acaba sendo maior.

Site EXAME - Como fazer com que os gestores não se deixem levar pelos preconceitos?
Terry - A empresa precisa definir quão empenhada é contra a discriminação. A empresa não pode ser conivente com pessoas que não contratam negros, por exemplo, só por causa da cor. Se isso ocorrer, a empresa precisa adverti-lo e até abrir processo disciplinar, se preciso. Mas há outras formas de fazer com que eles sigam. Uma delas é conscientizar o gestor da importância de aceitar pessoas diferentes também para dar mais valor ao negócio. Isso demora para ser feito. Não podemos esperar que as pessoas sejam tolerantes com outras da noite para o dia.

Site EXAME - Mas há gestores que negam inconscientemente a diferença e geralmente não contratam quem não se enquadra em seus padrões. O que fazer diante disso?
Terry - É bastante comum preferirmos pessoas com o mesmo repertório social e cultural, mesma cor e educação que nós. As empresas devem mostrar a quem contrata que é preciso arriscar um pouco. Uma orientação que dou é, sempre que houver empate entre dois candidatos - um "igual" e outro "diferente", o recrutador deve escolher este último, para dar-lhe uma oportunidade e diversificar a companhia. Se os maiores líderes da empresa fizerem isso, as outras pessoas vão fazer também. Por último, o diálogo sobre essas questões também é sempre muito importante. É preciso dar abertura para a aceitação.

Site EXAME - O que o senhor acha das políticas públicas que estabelecem cotas para negros, mulheres ou deficientes em empresas?
Terry - Essas políticas ajudam a pensar sobre o equilíbrio da composição da população e das empresas. Os gestores devem se perguntar "eu estou olhando para essa pessoa por causa de suas qualificações ou estou olhando para sua cor da pele, seu gênero ou outra diferença?". Essas políticas podem ser uma boa coisa para as empresas começarem a ser tolerantes, é um bom começo.


Disponível em <http://portalexame.abril.com.br/gestao/noticias/nao-ha-empresa-100-tolerante-diversidade-603765.html?page=2>. Acesso em 13 out 2010.